Portugal "não aproveitou o momento ideal para fazer as reformas necessárias" e enfrentar a actual crise, afirmou a ex-secretária de Estado Isabel Mota.
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Isabel Mota salientou também que os portugueses têm que tomar consciência de que "não podemos viver acima das nossas possibilidades".
"Muitos países, incluindo o nosso, não aproveitaram uma conjuntura favorável para fazer as tais reformas absolutamente necessárias e que se impunham para neste momento podermos aumentar a nossa competitividade e capacidade de crescimento", afirmou à Lusa a ex-secretária de estado em dois governos liderados por Aníbal Cavaco Silva.
Isabel Mota, administradora da Fundação Calouste Gulbenkian, falava à margem de uma conferência sobre o futuro da Europa realizada pelo ex-ministro e ex-comissário europeu António Vitorino, na terça feira, no Centro Cultural da instituição em Paris.
"Está à vista que, nos últimos anos, temos vindo sempre a crescer menos que a média comunitária. Significa que não estamos a conseguir ser competitivos e as perspetivas não são boas", acrescentou a ex-secretária de estado do Planeamento e do Desenvolvimento Regional, com responsabilidade nas negociações com a União Europeia (UE) dos Fundos Estruturais e de Coesão para Portugal entre 1987 e 1995.
"Num momento de crise financeira são exactamente os países que não arrumaram a casa e não trataram do investimento no sentido de preparar o futuro para viver num mundo global que estão a ter os maiores problemas", constata Isabel Mota.
"Houve um momento que teria sido ideal para se poder fazer o ajustamento e as reformas para agora estarmos preparados para enfrentar a crise financeira. E mesmo sem a crise financeira, já todos nós sabíamos que a globalização iria trazer uma concorrência acrescida", sublinhou.
Isabel Mota salienta que "há claramente um ataque ao euro por parte dos mercados" mas sublinha que "Portugal não tem uma situação como tem a Grécia".
No entanto, explicou Isabel Mota, "Portugal tem alguns elementos de preocupação que podem suscitar algumas dúvidas no mercado".
"Espero que Portugal consiga com o Orçamento do Estado ou com outras medidas suplementares àquelas que estão incluídas no Programa de Estabilidade e Crescimento convencer os mercados, os portugueses e as instâncias comunitárias de que vamos ser capazes de cumprir o programa de reajustamento das nossas finanças públicas para retomar uma trajectória de crescimento e esperança", afirmou Isabel Mota à Lusa.
"Portugal tem demonstrado com seriedade que está disposto a tentar alterar este caminho. Assim os portugueses estejam conscientes que não há outro caminho para garantir um projecto de prosperidade e de coesão se não ajustarmos a nossa vida, mesmo com alguma redistribuição de rendimento, àquilo que são as nossas possibilidades", afirmou a administradora da Fundação Calouste Gulbenkian.