O economista Carlos Brito, professor na Faculdade de Economia do Porto, respondeu a algumas perguntas do JN sobre a crescente procura dos portugueses por férias.
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Tendo em conta a crise económica e os preços que não param de aumentar, como se explica a procura crescente por férias?
À partida, não era expectável. Temos que distinguir o segmento interno do externo. Na pandemia, houve poupanças acumuladas que parecem que estão a ser gastas agora. Pode-se comparar a euforia do pós-confinamentos à dos loucos anos 20, com o sentimento de que é preciso aproveitar a vida o mais possível.
Mas isso não é arriscado, tendo em conta as previsões económicas para este ano e o facto de a guerra não dar sinais de acabar?
É, não ponho em dúvida. Mas os comportamentos levam-nos, muitas vezes, a não ter essa visão a longo prazo. Isso não quer dizer que não existem muitas pessoas com muitas dificuldades. Há é um segmento que se pode "dar ao luxo" de tirar férias, mesmo com os preços dos alojamentos.
Quando é de esperar que se comecem a sentir efeitos negativos do recurso a poupanças para as férias?
Por toda a Europa, já há toda uma onda de descontentamento. Depois do que as pessoas passaram na pandemia, esperavam melhor qualidade de vida. Mas isso não vai acontecer. No turismo, quando se vai notar? Já devia. Admito que haja alguma perspetiva dos anos 20 mas também que haja muita gente a endividar-se para ter férias, o que é dramático.