A greve dos maquinistas da CP suprimiu grande parte dos comboios previstos para esta sexta-feira e fez com que trabalhadores e estudantes de Lisboa, mas também emigrantes que vêm passar o Natal a casa, tivessem de recorrer ao autocarro.
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Na estação de comboios de Santa Apolónia, em Lisboa, contam-se pelos dedos as pessoas que aguardavam pelo comboio para voltar a casa. A habitual confusão de sexta-feira, em quadra natalícia, foi substituída por um silêncio que é interrompido apenas pela mensagem: "O comboio precedente das Caldas da Rainha circula com uma hora e três minutos de atraso. A CP lamenta os transtornos causados".
Luísa, de 23 anos, trabalha na capital mas é natural de Portalegre. Vai ter de esperar cerca de três horas pelo comboio, mas são os motivos da greve que mais a chateiam.
"Não concordo com a greve, porque um dos motivos é o atraso do pagamento dos subsídios. Há pessoas que nem sequer recebem subsídios - e eu incluo-me nesse grupo - e eles fazem greve porque recebem uma semana depois. É o manifesto deles, mas estão a afectar outras pessoas que não têm culpa", afirmou.
Ao contrário do silêncio de Santa Apolónia, em Sete Rios o que mais se ouve são as buzinas dos carros para entrar no parque de estacionamento do terminal rodoviário.
Vitória, de 55 anos, chegou hoje de Marrocos para passar o Natal com a família em Coimbra, de onde é natural. Tinha ouvido nas notícias que ia haver greve, mas "tinha esperança que desistissem" dela, depois da negociação de quinta-feira à noite com a administração da CP.
Sobre a greve, faz uma careta: "Vai afectar muita gente, mas eles lá terão as razão deles", conclui.
Também José, emigrante na Suíça, chegou hoje a Lisboa para passar o Natal em casa, perto de Mangualde. Sem comboio, o autocarro deixa-o em Viseu e ainda terá de fazer, com a boleia de familiares, mais 40 quilómetros até chegar à sua terra.
"Não posso dizer se concordo ou não, mas é uma época muito complicada", afirma.
Imigrante em Évora, onde trabalha e estuda, Manólis, de 30 anos, deixa hoje Lisboa para ir passar o Natal a casa. Concorda com a greve, mas opõe-se a que aconteça nesta quadra.
"Não está certo porque estes dias são dias que as pessoas que estão a ser prejudicadas com a crise estão a ser prejudicadas realmente com a greve. Quem tem dinheiro viaja de avião, de carro, os outros não", realça.
Ainda há sim, há quem concorde com a paralisação dos maquinistas: "As pessoas não gostam [da greve], mas eu concordo. É chato, mas está difícil [para os trabalhadores]", considerou Bianca, estudante de 22 anos, que deixa Lisboa no fim-de-semana para passar o Natal em Torres Novas.
A greve começou à meia-noite de hoje e prolonga-se até domingo, dia de Natal, estando também marcado um novo período para 1 de Janeiro e ao trabalho extraordinário até ao final deste mês.