Luís Filipe Menezes considerou hoje, sábado, que o primeiro ministro e o Governo "estão a pisar o risco" com o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, avisando que "um dia destes" deixarão de contar com a solidariedade do partido.
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"É preciso algum desaforo, eu diria, quase intolerável, vir dizer que o presidente do PSD não tem sentido de responsabilidade e não tem sentido de Estado só porque discorda da visão que o senhor primeiro ministro tem sobre as 'golden shares', que é uma visão errada", disse Menezes em declarações à agência Lusa.
Para o ex-presidente do PSD, o Governo e José Sócrates estão assim a "pisar o risco e a provocar excessivamente" o partido.
"Um dia destes, o senhor primeiro ministro não vai ter a solidariedade do PSD e vai ficar sozinho na praça se continuar com esta atitude", avisou.
Para Menezes, o actual presidente do PSD "tem demonstrado um extraordinário sentido de responsabilidade e de Estado, amparando, a bem de Portugal, todas as trapalhadas do senhor primeiro ministro", nomeadamente as relativas ao Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC), que andou para trás e às SCUT (auto estradas sem custos para os utilizadores).
"A resistência e a defesa do interesse nacional, em matérias como a da Telefónica e da Vivo faz-se através de uma economia portuguesa forte, em que accionistas portugueses fortes se associam e resistem a investidas e tomadas de posição por parte de empresas estrangeiras", considerou.
"Não se faz através da artificialidade das 'golden shares' que como se sabe só tem servido para manipular grandes empresas a favor de políticas de Governo, como temos assistido nos últimos dois anos", acrescentou.
O primeiro ministro, José Sócrates, condenou hoje as críticas de Passos Coelho em Madrid sobre a utilização da 'golden share' na PT, considerando que não honram "as boas tradições da política portuguesa".
O primeiro ministro, que discursava num colóquio organizado pela Fundação Res Publica sobre "As soluções do socialismo democrático para a crise económica", frisou ainda que o acórdão do Tribunal de Justiça Europeu da semana passada reconhece "implicitamente" que "nas áreas das comunicações, o Estado pode ter direitos especiais nas empresas".
José Sócrates considerou que as críticas de Passos Coelho à existência da 'golden share' na PT e ao facto de ter sido utilizada seriam "perfeitamente legítimas" se fossem proferidas em Portugal, mas condenou que tivessem sido feitas no estrangeiro e no país onde está sediada a empresa em questão.