Manutenção de 250 contratados é a grande prioridade da Comissão de Trabalhadores face à rejeição do pré-acordo laboral. Governo está confiante numa solução. CGTP sublinha que trabalhadores conhecem a realidade da empresa.
Corpo do artigo
"Esta manhã, informámos os resultados do referendo à administração, que ficou de nos comunicar a sua posição até à próxima quarta-feira", disse António Chora, no final da reunião entre a Comissão de Trabalhadores (CT) e a administração da Autoeuropa.
Questionado sobre a disponibilidade da administração do fabricante automóvel para negociar um novo acordo, António Chora mostrou-se convicto de que tal não irá acontecer.
"A administração colocou várias medidas alternativas durante as negociações. Agora vamos esperar pelo que nos irá propor na próxima semana", disse o porta-voz, reafirmando a convicção da CT de que o pré-acordo laboral era "a melhor solução para fazer face aos problemas do sector nos próximos 10 ou 11 meses".
Sobre os motivos que terão originado a rejeição do pré-acordo laboral, António Chora explicou que houve algum receio dos trabalhadores de perderem direitos adquiridos.
Governo confiante num acordo
O primeiro-ministro, José Sócrates, incentivou a administração e os trabalhadores da Autoeuropa a continuarem as negociações de forma a chegarem a um pré-acordo para flexibilização laboral da empresa.
"Eu tenho a certeza que os administradores da Autoeuropa e os trabalhadores acabarão por chegar a um acordo", disse José Sócrates à chegada a Bruxelas, acrescentando ser "muito importante que esse acordo exista".
Para o primeiro-ministro "já não é a primeira vez que uma proposta é derrotada em referendo e depois há uma segunda proposta que é votada favoravelmente".
"É preciso negociar, é preciso obter um compromisso, e tenho a certeza que os trabalhadores compreenderão, tal como a administração, que o facto deste acordo ter sido recusado em referendo só deve ser um estímulo para que negoceiem mais e produzam um novo acordo satisfatório para ambas as partes", insistiu José Sócrates.
Também o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, mostrou-se confiante de que as divergências sejam ultrapassadas. "Tenho confiança que vai ser possível ultrapassar as divergências e chegar a um acordo" na Autoeuropa, uma empresa cujas relações laborais se têm baseado "num diálogo entre os seus actores", afirmou.
Quando questionado acerca de uma possível intervenção do Governo na resolução do conflito, o ministro disse que estas situações devem ser resolvidas na empresa, mas sublinhou que "uma situação destas deixa-nos sempre preocupados".
O ministro da Economia, Manuel Pinho, diz estar "muito preocupado" com a rejeição do pré-acordo laboral, reiterando que Governo "não pode fazer nada", porque os trabalhadores "são totalmente livres". "Estou muito preocupado e do fundo do coração espero bem que os trabalhadores reconsiderem as consequências que uma decisão destas pode ter", referiu o governante.
CGTP diz que chumbo não foi ao acaso
Para o secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, a posição dos trabalhadores "não é uma posição do acaso", acreditando que estes saberão encontrar formas de lidar com a situação.
"Os trabalhadores da Autoreuropa são, seguramente, no seu conjunto, a entidade que melhor conhece a realidade da Autoeuropa e que melhor capta os sinais quanto ao futuro da empresa e, portanto, a sua posição não é uma posição do acaso", disse Carvalho da Silva, à margem da tomada de posse da Comissão de Igualdade entre Mulheres e Homens, em Lisboa.
Carvalho da Silva chamou a atenção para o facto de o volume geral dos salários na Autoeuropa pesar nos custos de produção "apenas cinco por cento".
"Portanto, não se pense que são as horas extraordinárias de meia dúzia de sábados num ano que têm influência nos custos de produção da Autoeuropa. Insistir nesta trapaça é um crime autêntico porque trata-se de uma margem mínima dos custos de produção", acentuou o dirigente da CGTP.
Certo de que "os trabalhadores saberão encontrar formas de resolver a actual situação", Carvalho da Silva salientou que "seguramente, estão todos preocupados com o emprego e procurarão fazer tudo para o defender".
Basílio Horta manifesta "surpresa e preocupação"
O presidente da AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, Basílio Horta, manifestou-se "surpreendido e preocupado" com a rejeição pelos trabalhadores da Autoeuropa do pré-acordo para flexibilização laboral da empresa.