Tudo a piorar na economia portuguesa após um ano de troika exceto na exportação
Um ano depois de Portugal ter feito o pedido de ajuda financeira à 'troika' a economia portuguesa está bem pior. Todos os principais indicadores registaram agravamentos, com exceção das exportações - e mesmo estas estão em abrandamento.
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O Produto Interno Bruto (PIB), que já estava a encolher antes do pedido de ajuda, continuou a diminuir. Segundo números do Instituto Nacional de Estatística (INE), o PIB reduziu-se 1,1% no segundo trimestre de 2011 (por comparação com o mesmo período do ano anterior), caiu 1,9% no terceiro trimestre, e contraiu-se 2,8% nos últimos três meses do ano passado.
Para este ano, a tendência de agravamento deverá persistir. O Governo prevê que em 2012 a economia encolha mais 3,3%, e que a redução seja especialmente forte no primeiro semestre.
Também o consumo privado sofreu uma redução brutal. Caiu sucessivamente 3,3%, 3,4% e 6,5% nos últimos três trimestres do ano passado.
Em algumas categorias de produtos, a quebra foi ainda mais abrupta -- particularmente na venda de veículos.
Em março deste ano, o número de automóveis vendidos em Portugal foi 49,2% inferior ao do mesmo mês do ano anterior, segundo a Associação Automóvel de Portugal (ACAP). A venda de veículos comerciais está a cair a ritmos mais fortes (acima de 65%).
O Governo e todas as grandes instituições económicas esperam que o consumo continue a diminuir este ano, em função da redução do rendimento disponível (causado em parte pela suspensão dos subsídios para função pública e pensionistas), do aumento da inflação e do desemprego.
Este último indicador é de resto a face mais visível da deterioração da economia. A taxa de desemprego do INE, que estava nos 12,1% no segundo trimestre do ano passado, chegou aos 14% no final de 2011. É de prever que continue a aumentar este ano -- o Governo prevê uma taxa de 14,5% para o cômputo de 2012.
O desemprego registado (número de inscritos em centros de emprego) aumentou em mais de 100 mil pessoas. Em abril de 2011, havia 541.974 desempregados registados nos centros do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP); em fevereiro deste ano, já eram 648.018.
Os indicadores de conjuntura do INE e do Banco de Portugal registaram recordes negativos históricos no final do ano passado, embora com ligeiras recuperações no início deste ano; a deterioração foi particularmente grave nos indicadores de confiança dos consumidores.
Normalmente, uma diminuição tão forte da atividade é acompanhada por uma descida dos preços -- mas não está a ser esse o caso em Portugal. A inflação no ano passado esteve acima dos 3%, e deverá voltar a ficar pelos 3,6% em 2012, impulsionada pela subida do preço do petróleo e pelos aumentos em alguns impostos (como o IVA) e em preços administrativos (como os dos transportes)
Só as exportações têm crescido. Em termos nominais, as exportações aumentaram a ritmos superiores a 10% em todos os meses do ano passado -- com exceção de dezembro, em que só cresceram 3%. Em janeiro voltaram a subir 13,1%, mas é quase certo que vai haver um abrandamento este ano.
Em volume (isto é, ajustando para os efeitos cambiais), as exportações vão crescer 2,1%, um ritmo bastante mais fraco que os 7,4% do ano anterior.
O aumento das exportações não será contudo suficiente para compensar a retração do consumo e do investimento -- que se reduziu 11,4% no ano passado, e deverá continuar a diminuir este ano.
O principal índice da bolsa portuguesa, o PSI20, também sofreu uma queda significativa no último ano. O índice estava nos 7.816,7 pontos; na segunda-feira, fechou a sessão nos 5,544.9. Em pouco menos de um ano, o PSI20 perdeu 41%.