O secretário-geral da UGT, João Proença, considerou esta quarta-feira que o Governo se demitiu do seu papel ao apresentar uma taxa de desemprego de 14,5% para 2012, admitindo um aumento da conflitualidade laboral nos próximos meses.
Corpo do artigo
"A mensagem do Governo para os portugueses é a que 'nós não vamos pelos desempregados e se no fim conseguirmos um desemprego de 14,3/14,4% fomos uns heróis, porque ficou abaixo da previsão. É a mensagem mais disparatada que nós já ouvimos", disse.
João Proença falava aos jornalistas no final de uma audiência com o presidente da República, em dia de "Jornada de Ação Europeia".
"Ao apresentar um aumento para o próximo ano da taxa de desemprego para os 14,5%, o Governo demite-se do seu papel de ter uma política ativa de emprego e através dela combater o desemprego. Isto é claramente inaceitável", considerou o secretário-geral da UGT.
Recusando uma vez mais cenário de greve geral, por considerar que esta "não contribuirá para uma diminuição do desemprego", João Proença admitiu contudo um aumento da conflitualidade na área laboral.
"Se a negociação coletiva continuar paralisada, se houver medidas no setor empresarial do Estado de despedimentos coletivos ou medidas especialmente gravosas é evidente que a conflitualidade vai aumentar na área laboral", acrescentou.
João Proença foi recebido esta quarta-feira pelo presidente da República, Cavaco Silva, no dia em que este reconheceu, em entrevista à TSF, que o Orçamento para 2013 "não vai ser nada fácil de fazer", notando a "grande coragem" do Governo para cumprir as metas, mas considerou impossível impor mais austeridade aos mais vulneráveis.
Também para o secretário-geral da UGT, João Proença "não pode haver mais austeridade" e terá que haver um aumento do consumo interno.
"A aposta nas exportações é uma boa aposta mas para conseguirmos crescimento económico é preciso animar o consumo interno", disse aos jornalistas no final da audiência.
Na entrevista, o chefe de Estado reforçou a necessidade do Estado atribuir "uma prioridade muito grande" aos portugueses que se encontram em situações de extrema fragilidade e dificuldade, sublinhando que "é preciso olhar à pessoa".
"Há um conjunto que chamamos os novos pobres e que são os mais atingidos" pelas medidas de austeridade, disse, destacando a situação dos pensionistas, dos empresários muito pequenos que não conseguem vencer queda na procura e das famílias que sofreram reduções abruptas dos rendimentos.
Na terceira avaliação ao programa de ajustamento português, a 'troika' diz que Portugal está no bom caminho, mas ainda existem desafios, esperando um agravamento da recessão este ano e um aumento da taxa de desemprego.
De acordo com o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, o Governo espera agora que a taxa média anual de desemprego este ano atinja os 14,5% (anterior projeção apontava para 13,4%), que por sua vez deverá cair para pouco menos de 14% em 2013 (também em valor de média anual).
No quarto trimestre de 2011, a taxa de desemprego atingiu os 14%, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).