O presidente do BPI, que confessou votar habitualmente no PSD e estar inclinado a votar novamente em Passos Coelho, desferiu, esta terça-feira, um violento ataque ao Governo, acusando-o de não se poder pôr de fora da situação que levou à medida de resolução do BES.
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"Não consigo partilhar e aceitar esta visão de que isto foi tudo ao lado do Governo e que foi o Banco de Portugal (BdP) que fez tudo sozinho, tenho imensa pena", disse o O presidente do BPI, Fernando Ulrich, já no final da audição desta terça-feira, na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES.
Ao fim de quatro horas de audição e admitindo estar "cansado", Fernando Ulrich quis ser "muito claro" nas palavras. "Não é segredo para ninguém que eu voto tradicionalmente no PSD. Votei Passos Coelho e provavelmente voto outra vez mas, dito isto, não concordo com esta visão que isto esta completamente ao lado do governo. Tenho imensa pena", disse, recusando-se a aceitar a ideia de que "foi o BdP que fez tudo sozinho".
"Nós tivemos um programa de ajustamento económico e financeiro com a troika que tinha uma componente para os bancos,. Esse programa foi negociado entre a troika e o Governo português, foi cumprido pelo governo português e tinha uma componente do sistema financeiro", disse, recusando que o Governo se possa pôr de fora. "Não estou disponível para dizer que 'a culpa é toda do BdP, mais ninguém teve nada a ver com isto'. Eu não me revejo nisso", disse, insistindo que "não é possível excluir o Governo desta situação".
"Lamento, mas entendo que as responsabilidades são mais vastas", disse.
Durante toda a sua intervenção no Parlamento, Ulrich defendeu que havia informação pública suficientemente forte que alertava para as dificuldades do BES desde 2009, com o aumento da exposição a Angola, e mais tarde, em 2011, com o recurso ao fundo da ES Liquidez para financiar as holdings do Grupo Espírito Santo.
"Aquilo era uma demonstração pública de vulnerabilidade do GES", disse, insistindo que os dados eram públicos e que "os sinais de preocupação" estavam à vista de todos. Em seu entender, uma intervenção para salvar o banco deveria ter sido feita em 2012, e que isso poderia ter sido feito através de um "arrepiar de caminho" por parte de quem o geria. E não com uma "fuga para a frente", como sucedeu.
Ulrich aponta também o dedo ao Banco Central Europeu neste processo e critica a medida de resolução, tomada pelo Governo, embora reconheça que é a que melhor salva os interesses dos contribuintes. "Estão a jogar à roleta com a estabilidade do sistema financeiro português", disse, referindo-se aos impactos nos outros bancos.