O Porto, o público e o palco são como ímanes para os Ornatos Violeta, que em 2019 não resistiram a mais um regresso que parece estar prestes a findar. Os portuenses abriram as portas do estúdio do Círculo Católico dos Operários, onde preparam o concerto de logo no JN North Festival. Prometem um espetáculo memorável junto ao Douro que ainda lhes está na memória de infância.
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É o primeiro concerto após a pandemia, como se sentem?
Peixe: Vai ser especial porque ficamos com a ansiedade toda em standby até agora. É claro que estamos cheios de vontade. Vamos tocar junto ao rio, na Alfândega, que era o sítio que nós frequentávamos quando éramos mais jovens, quando a Ribeira estava na berra e não era só para turistas. Era ali que a gente deixava o carro antes de ir para o Aniki Bobó. É das nossas zonas favoritas e vai ser mágico.
Já estão habituados a hiatos e regressos, mas este é especial de algum modo?
Elísio Donas: Nós tínhamos saudades de estar em palco os cinco. Isso acontece-nos, independentemente de quanto é esse hiato. Gostamos de nos ver em palco juntos e gostamos muito das carreiras individuais de cada um também, que seguimos todos, e acima de tudo é um reencontro de gajos que fazem música há 31 anos. E é especial ser no Porto o primeiro concerto. Nós somos muito bem recebidos onde vamos. Lisboa é impecável, mas o Porto tem sempre aquele carinho especial. É especial, é o nosso rio ali ao lado.
O que é que se pode antever do concerto?
Manel Cruz: A ideia sempre foi, em todas as vezes que voltamos, incluir um pouco de tudo aquilo que fizemos, e acaba por ser isso que aqui vai estar presente também.
O cartaz do primeiro dia é todo português. Isso é sinal de vitalidade da música nacional?
Nuno Prata: Há uma banda que está na mesma situação que nós, que são os Zen, que é uma banda que está inativa e de vez em quando faz uns concertos. Linda Martini é excelente, Paus é excelente e gosto muito do S. Pedro, o projeto a solo do Pedro Pode.
Que planos para o futuro?
P.: Este concerto não fazia parte dos nossos planos. Costumamos brincar a dizer que em princípio serão os últimos.
M.C.: Para já, temos a certeza que são os últimos.
P.: A verdade é que há sempre algo que nos motiva a tocar, mas é muito difícil adivinhar o que vai acontecer. O ano de 2012 já foi uma coisa que nunca imaginaríamos que acontecesse, mas foi incrível. Não há qualquer programação ou intenção de continuidade, e o contrário também não. Ou seja, é viver um dia de cada vez.
As plateias cheias não vos motivam a regressar?
M.C.: Eu falo por mim, e por mim o passado estava bem no sítio onde estava, mas pude-me aperceber da grande vontade que as pessoas tinham que a gente voltasse. De alguma maneira 2012 exorcizou essa vontade, portanto podíamos ter ficado por aí, mas eu costumo dizer que está sempre a nascer gente e continuamos a ter muito público nesses retornos. Também tem bom retorno financeiro, é uma coisa que conta, mas que só pode contar se nós estivermos unidos e se o ambiente entre nós for mesmo bom.
Surpreende-vos que consigam chegar a tantas gerações?
E.D.: Hoje já não me surpreende, mas acho que é adorável. Encontro pessoas no público que já não via há mais de 20 anos e agora estão ali e têm um puto, ou uma miúda. Um dos grandes motivos para essa transversalidade de gerações são as letras do Manel. As pessoas continuam a identificar-se com as letras independentemente da idade que têm, porque elas falam de nós. De nós todos.
Têm sentido que o ano de 2022 é o do regresso da música ao vivo?
M.C.: Sim. A sensação que eu tenho é que estamos a fazer o que era para ser feito mais o que há para fazer. Há uma soma, sinto que de alguma maneira há alguma intensidade, não só da parte dos músicos mas também das equipas técnicas. Está de facto a aparecer muita coisa. É muito bom e a expectativa é que estas coisas se tornem rotina outra vez.