Praias, passadiços, ciclovias e bandeiras azuis são portas abertas ao desenvolvimento humano sustentável em Vila Nova de Gaia.
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"Um percurso muito bonito e uma ciclovia espetacular". Assim descreveu Matilde Sá a paisagem, junto à praia de Canide Norte. Contou que vinha da Douro Marina, junto ao rio, e que seguia viagem até à praia de S. Félix da Marinha, a última do município de Vila Nova de Gaia.
A ciclista começou o seu percurso na primeira marina do país a obter a bandeira azul e passou em quase toda a orla costeira do concelho, sem nunca perder de vista as bandeiras com cor de mar atribuídas às trinta praias banhadas pelo Oceano Atlântico - num total de 19 águas balneares -, algumas delas acessíveis a pessoas com mobilidade condicionada.
A praia da Granja foi a primeira estância balnear portuguesa a ser planeada de raiz ainda no século XIX
Matilde Sá, que se cruza com "ciclistas profissionais, turistas, sozinhos ou em grupo, em bicicletas elétricas ou normais", acrescentou que "a vista de mar e a segurança" são as principais razões por que utiliza aquela ciclovia.
De olhos postos no mar
A pouco mais de um quilómetro, a placa "Welcome to Madalena Beach" marca uma zona mais concorrida, perto do antigo Parque de Campismo da Madalena, onde este ano se realiza de novo o festival Marés Vivas.
Passando pelas praias de Valadares, Francelos, Sãozinha, Dunas Mar e Francemar, a incontornável capela setecentista do Senhor da Pedra, erguida junto ao mar na praia com o mesmo nome, alberga uma das mais tradicionais romarias cristãs de Vila Nova de Gaia. Mas também guarda mistérios, lendas e uma inscrição velada que dá conta de um antigo culto pagão. Narrativas para pensar enquanto se percorrem os passadiços que serpenteiam as praias de Miramar, Mar e Sol e a Estação Litoral da Aguda, mesmo antes da outrora elitista praia da Granja.
A praia da Granja foi a primeira estância balnear portuguesa a ser planeada de raiz ainda no século XIX, o que levou o escritor Ramalho Ortigão a classificá-la como "a mais graciosa, a mais fresca, a mais asseada das estações de recreio em Portugal". Ainda na Granja, fica a Piscina de Mar, que aproveita a água do oceano. Inaugurada em 1938, foi a primeira do género no país.
Um roteiro também se faz de rio
No areinho de Oliveira do Douro, o casal inglês Mandy e Collin decidiu vir a pé desde o centro do Porto. Sentados na esplanada de um café-restaurante, confessam-se "extasiados com a novidade de poder estar junto ao rio a ver o Porto".
Os balneários sazonais e os nadadores-salvadores durante a época balnear são alguns melhoramentos que também se encontram mais acima, no areinho de Avintes, que inclui um rinque e um campo de futebol. Das mesas de piquenique avista-se Gondomar, na margem direita do Douro, num local onde o rio estreita. Mesmo ao lado fica a Quinta do Paço, onde se faz a festa da famosa Broa de Avintes.
No que poderia ser um Douro "mais profundo", no areinho de Arnelas vislumbram-se os restos das antigas caves de vinho edificadas no tempo do Marquês de Pombal. Joaquim Alves mostra uma delas, com um teto em abóbada construído em pedra, enquanto recorda os relatos da sua avó.
Também daquela freguesia, a avó de Joaquim Alves dava conta do porto de Arnelas, "onde os barcos rabelos paravam para pagar os impostos". Joaquim Alves está satisfeito com a areia que "todos os anos é depositada naquela praia", que tem, para os seus olhos, a melhor vista da região.
Por fim, a cerca de 10 quilómetros, subindo o Douro, o areinho de Crestuma conclui a oferta das praias fluviais de Vila Nova de Gaia.