Baião é Destino Turístico Sustentável há mais de duas décadas e conquistou recentemente o nível Ouro, o mais alto da certificação atribuída pela EarthCheck. Reflexo de uma oferta virada para a paisagem natural, costumes, histórias e sabores.
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Abraçado por rios e montanhas, Baião é o concelho com maior área verde do distrito do Porto, correspondendo a cerca de 68% do seu território, o que faz com que a natureza seja um dos maiores atrativos turísticos. A sua preservação, além da elevada importância ecológica, é essencial para oferecer aos visitantes experiências de valor, tais como um passeio pela galeria ripícola do rio Ovil, à sombra fresca do arvoredo que ladeia os trilhos e passadiços, a ouvir a avifauna e a água corrente; ou uma caminhada nos planaltos da serra da Aboboreira, a descobrir os seus monumentos megalíticos. Daí que o município tenha sido veloz a assumir compromissos de sustentabilidade ambiental. Em 2002, Baião foi o primeiro município português certificado como Destino Turístico Sustentável, uma distinção atribuída pela EarthCheck, entidade acreditada pelo Global Sustainable Tourism Council. Este ano alcançou o selo Ouro, a distinção máxima, apenas partilhada em Portugal pela Região Autónoma dos Açores.
Esta certificação reconhece uma estratégia turística que atenta à conservação ambiental, mas que assenta também no desenvolvimento económico, social e cultural do concelho. O compromisso com a sustentabilidade implica não só a valorização e preservação do património natural mas também de outros ativos: os costumes, as histórias e os sabores do concelho. Porque vamos a Baião pelas paisagens naturais do rio Douro e da serra do Marão, mas também pelas palavras de Eça de Queiroz, pelo anho assado com arroz de forno, pelo vinho Avesso e pelo biscoito da Teixeira. Por isso, um passeio serrano ou à beira-rio só fica completo depois de recarregarmos baterias numa mesa bem composta com produtos regionais e de um banho de cultura num desses palcos da arte e do espetáculo que enriquecem cada visita a Baião.
Corredor Ecológico do Rio Ovil
Nasce na Serra da Aboboreira e vai desaguar ao rio Douro, atravessando no entremeio bonitas paisagens naturais. Recentemente, o município criou dois percursos pedestres - um troço a montante, entre a área de lazer de Medim e Várzea, e outro a jusante, entre a Ponte Nova de Ancede e a foz - ao longo da galeria ripícola do rio Ovil, para que os visitantes e locais usufruam da envolvência. É uma espécie de corredor ecológico, para fruir a natureza, mas também para promover a sensibilização e educação ambiental. São mais de cinco quilómetros em caminhos de terra ou passadiços de madeira que permitem observar a fauna e a flora, passar por antigos moinhos e levadas, e até uma estrada romana, em Porto Manso, aldeia imortalizada no romance homónimo de Alves Redol.
Mosteiro de Ancede Centro Cultural de Baião
Em 2023, o Mosteiro de Santo André de Ancede, um monumento do século XII integrado na Rota do Românico, foi alvo de uma obra de requalificação que respeitou as suas memórias mas deu-lhe uma nova função, a de centro cultural (MACC Baião). A intervenção, assinada pelos arquitetos Álvaro Siza Vieira e Daniel Vale, veio dotar o equipamento das valências necessárias para acolher uma agenda eclética e variada, com exposições e concertos, além das visitas ao património. Até outubro, está patente a exposição "Impressões do tempo - 150 anos do expressionismo", com quadros de Renoir, Pissarro, Sisley, Matisse e Malhoa. Agosto traz ainda espetáculos de música e magia. Em setembro, as Jornadas Europeias do Património desafiam a redescobrir o monumento numa experiência de escape room.
Passear na Serra da Aboboreira
A serra da Aboboreira, classificada como paisagem protegida regional, integra o maciço montanhoso Marão/Alvão e é partilhada pelos concelhos de Amarante, Baião e Marco de Canaveses. Nas suas paisagens dominam os longos planos, designados de "chãs", prados de gramíneas e vegetação rasteira, e vertentes cobertas de carvalhos, sobrevoadas por aves de rapina. É também um local de interesse para os aficionados da história e da arqueologia, por deter um importante complexo megalítico, composto por antas e mamoas, vestígios pré-históricos da ocupação daquele território pelos povos primitivos, há cinco mil anos.
Petiscar com tradição na Taberna Lura
O chef António Queiroz Pinto cresceu entre a cozinha e a sala do icónico Pensão Borges, referência da cozinha regional, em especial do anho assado com arroz de forno, e foi aí que apurou o gosto pela tradição gastronómica. No centro de Baião, a poucos metros do restaurante dos pais, abriu o seu Taberna Lura, com uma carta focada nos petiscos, num apelo ao convívio e à partilha. Tudo saído do receituário tradicional e confecionado com produtos regionais e da época. Apesar do caráter petisqueiro da casa, o cozinheiro também dá protagonismo a pratos de maior consistência, como o famoso frango alourado com arroz de favas que Eça de Queiroz descreve no romance "A cidade e as serras", que tem o lugar de Tormes, em Baião, como cenário.