O Lavandeira é um lugar de surpresas. Nas barbas do rio Ovil, em Ancede, Baião, acordamos na copa das árvores, vamos a banhos no rio, bebemos um copo de vinho ao pôr do sol e passamos longos serões à mesa, com pratos de conforto.
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O Lavandeira não se revela de uma só vez, vai-se descobrindo aos poucos, um recanto atrás do outro, com tempo para os saborear a todos. À casa senhorial, brasonada desde 1871, juntaram-se outras parcelas de terreno para dar vida ao sonho do proprietário Carlos Gomes de produzir vinho, e nelas foram nascendo mais unidades de alojamento, que privilegiam a privacidade e o conforto, dispersas ao longo de 21 hectares, na freguesia de Ancede, Baião.
Ali, a natureza é o maior luxo de todos, e por isso tenta-se ao máximo preservá-la e trazê-la para os espaços interiores. Exemplo disso mesmo são as Brandas, cabanas de design moderno e minimalista, completamente revestidas a madeira e embrenhadas na envolvência natural. Parecem até camufladas entre o arvoredo e a vegetação. No interior, de pé direito alto, forrado a madeira de pinho e com grandes fachadas envidraçadas, dá a sensação de estarmos numa casa da árvore ou até mesmo dentro de um tronco, a ver a folhagem esvoaçante à nossa volta.
Este esforço por minimizar o impacto na paisagem e pela sustentabilidade ambiental deu também origem às casas Origo - do latim "origem" - construídas sobre ruínas pré-existentes, que imprimem carácter e singularidade a cada uma delas. A Casa do Rio, com a sua varanda debruçada sobre o rio Ovil - que corre ao longo da quinta, proporcionando zonas para banhos e um percurso pedestre que liga aos passadiços municipais num agradável passeio ribeirinho até ao rio Douro - é um desses refúgios onde o som da corrente e das cascatas inspira tranquilidade. O ambiente é propício para um dos tratamentos de assinatura do spa, que também podem ser feitos na privacidade do quarto, já que ali a natureza oferece todos os elementos para o relaxamento. Ainda assim, vale a pena conhecer o centro de wellness do hotel, que conta com piscina interior aquecida, banho turco, sauna e ginásio.
Na zona exterior, os dias de verão convidam a tardes relaxantes no Lago (uma grande piscina de contornos orgânicos), instalado junto a um jardim de oliveiras e das vinhas que se desenrolam daí em diante. São seis hectares, dedicados às castas Avesso - rainha dos Vinhos Verdes da sub-região de Baião -, Arinto e Chardonnay, a que se juntaram recentemente mais umas parcelas de Sauvignon Blanc. Foi, pois, o desejo de fazer vinho que fez nascer (ou renascer) a Casa da Lavand"eira. O edifício senhorial foi o primeiro a abrir para alojamento, com quartos que conjugam o conforto com a história da propriedade. "Já no século XIV a Casa da Lavand"eira era muito requisitada para um desporto muito apreciado à data pelos nobres, que eram as montadas", conta Jorge Eira, diretor do hotel, revelando que nestas ocasiões era frequente juntarem-se ali D. Pedro e Inês de Castro, naquele que é agora o Quarto da Tulha.
Desde então, o hotel tem vindo a crescer gradualmente, e este ano, com a construção de mais duas casas Origo e a transformação do antigo salão de eventos em cinco habitações familiares, o projeto ficará finalmente concluído. Esta nova etapa do Lavandeira inclui ainda a renovação da adega, que será aberta a visitas, e uma nova loja e sala de provas.
Para já, provam-se os vinhos na esplanada junto às vinhas ou servidos à mesa do restaurante Elmo, instalado nas antigas cavalariças (de caminho, convida-se a espreitar o museu de carros clássicos, outra surpresa que nos revela o Lavandeira). Ali, o chef Paulo Magalhães trabalha uma cozinha de memórias, enraizada na tradição, no sabor e na sazonalidade. A proximidade é outro pilar da oferta. Tentam produzir o máximo de ingredientes na propriedade - têm uma horta de vegetais, pomares, criação de animais, e produção de enchidos e fumeiro, azeite e vinho -, e o que não conseguem adquirem a produtores locais. "Tentamos aproveitar ao máximo o que a quinta nos dá", realça o chef amarantino, que todos os dias, em conjunto com a sua equipa, cria uma entrada diferente - o chamado Miminho da Horta - com o que estiver disponível no dia. Aquando da visita da Evasões, presenteou-nos com uma deliciosa salada de pimento assado com tomate cherry. Nos seus passeios pela quinta, os hóspedes são encorajados a colher o que estiver pronto e a levar para a cozinha, ou simplesmente apanhar um morango ou outro fruto da época para comer pelo caminho.
A cozinha tradicional, como dizíamos, é o estandarte do Elmo, por vezes vestida com roupagens mais criativas, como é o caso dos cozidinhos - rolinhos de couve recheados com todos os elementos do cozido à portuguesa e servidos com uma redução do caldo do mesmo -, ou da waffle de patanisca. Mas também chegam à mesa travessas de partilha, com arrozes apurados - destacam-se o de polvo e o de costela mendinha, e o arroz de cabidela, receita da avó do chef, feito apenas por encomenda -, e o anho assado típico da região. Com tudo isto, é provável que o almoço se prolongue pela tarde dentro. Afinal, o Lavandeira é um lugar para saborear com tempo.
Lavandeira Douro Nature & Wellness
Rua da Lavandeira, Ancede, Baião
Tel.: 255 551 008
Web: lavandeiradouro.com
Alojamento duplo a partir de 130 euros por noite