Chegou a minha estação preferida do ano. Época de regressos e de recomeços. Perdem-se horas de luz, ganha-se em aconchego. Veste as ruas de novas cores, traz outros sabores.
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Com os respetivos timbres únicos e hipnotizantes, já cantavam noutros tempos Ella Fitzgerald e Louis Armstrong: "Autumn in New York, why does it seem so inviting? The gleaming rooftops at sundown. Oh, autumn in New York, it lifts you up when you run down. It"s autumn in New York, it"s good to live it again". Um dia destes, enquanto arrumava a casa, uma playlist no Spotify dedicada ao outono, com este tema incluído, reavivou-me do talento destes dois gigantes, mas também do quanto eu adoro a época que arrancou agora. Não é por acaso que é o tema e a inspiração centrais de poemas de nomes como Miguel Torga, Fernando Pessoa ou Florbela Espanca. Há muito que é a minha estação preferida do ano.
Outono abre portas a renovação, a mudança. E isso é sempre bom. Ligo a ideia de iniciar uma nova etapa mais a setembro do que a janeiro, por exemplo. E, com tudo aquilo que o verão tem de bom, também sabe bem poder desacelerar um pouco, depois de meses seguidos do habitual frenesim social em que mergulhamos na estação mais quente.
Depois, o outono traz um sem-fim de vantagens: um clima mais equilibrado e viagens mais baratas do que no verão surgem logo no pensamento. E claro, faz-se noite mais cedo e os dias vão ficando mais curtos, mas isso é a desculpa ideal para compensar tempo no sofá e colocar em dia todas as séries e livros que continuam em lista de espera, em serões de aconchego. E a beleza que traz o outono? Por estes dias, as folhas das árvores caem, a natureza muda e as ruas ganham uma paleta de tons acastanhados, amarelados, alaranjados a avermelhados.
Sendo nós um povo com identidade intimamente ligada aos bons convívios à mesa, também importa falar de sabores. E o outono traz alguns dos meus preferidos. Dá-se luz verde a pratos de maior conforto e entra em ação uma patrulha ilustre: abóboras, avelãs, nozes, romãs, figos, dióspiros ou marmelos. Provam-se os primeiros vinhos de talha do ano, terminam-se vindimas. E quem resiste a castanhas assadas? Uma perdição. Assim que as ruas se enchem com o seu característico cheiro, viajo de imediato para os magustos passados nas aldeias beirãs dos meus avós. Um brinde ao outono! De preferência, com água-pé ou jeropiga - e até hoje, nunca provei melhores do que as feitas pelo avô Alberto. O outono também é nostálgico.