Setembro traz sempre uma certa melancolia inerente ao final dos dias de veraneio, ao regresso à rotina e à iminência das estações mais frias e cinzentas. Mas há que encontrar aconchego nesse interregno, enquanto esperamos pelo regresso do verão.
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É um sentimento que todos nós conhecemos bem. Sejam 8 dias, duas semanas ou os três meses dos tempos áureos de escola, as férias passam a correr. Sabe a pouco. Queremos sempre mais. É como se chegado o verão o relógio entrasse em modo acelerado e os dias, ainda que os saibamos individualmente mais longos, no seu conjunto dessem a sensação de serem mais fugazes, quando comparados com o interminável período de inverno.
Talvez seja a leveza de espírito com que esses meses quentes e luminosos nos fazem viver, em ânsia pelos tão merecidos dias de descanso, libertos do peso de um ano de trabalho, das obrigações diárias, dos horários, das tarefas, das preocupações, e entregues finalmente à doçura de nada fazer - o dolce far niente, como tão bem descrevem os italianos.
A última crónica que aqui escrevi refletia sobre a alegria que é a chegada do verão. Esta vem a calhar no final desse período mágico, e escrevo-a a ouvir a chuva cair do outro lado da janela, num final de tarde fresco, que já pede um agasalho.
Setembro traz sempre consigo uma certa melancolia inerente ao fim dos banhos de sol e de mar, ao regresso à rotina e à iminência das estações mais frias e cinzentas. Para os que sofrem da sazonal depressão pós-férias começa a contagem decrescente para as próximas semanas de veraneio. Não vemos a hora da Terra completar mais uma volta ao sol e trazer de novo o calor. Também padeço dessa maleita, mas partilho um remédio que tem vindo a surtir efeito: mais vale aproveitar o tempo de espera, alegrar este interregno com momentos prazerosos, escapes. Assim, num piscar de olhos voltaremos a pôr os pés na areia.
Será um sentimento consideravelmente menos popular do que aquele que partilhava no início deste texto, mas confesso que sinto também um lampejo de entusiasmo com as oportunidades que traz esta rentrée. Encontro particular aconchego no outono. Anseio por uma caneca de chocolate quente e uma manta num dia de chuva, pelos tons avermelhadas que pintam as vinhas e os bosques, pelo apregoar dos assadores de castanhas nas ruas do Porto, pelo cheiro a canela e mel, e pela chama de uma lareira. Entusiasmo-me com a ideia de um fim de semana na neve, com as luzes de natal e as rabanadas. Os pequenos prazeres da vida podemos tê-los todo o ano, enquanto esperamos que o verão regresse e os prolongue. Leva o teu tempo, amigo. Vou fazer uma pausa nos refrescos. Agora quero uma chávena de chá, umas meias coloridas e um cardigã.