No fim de semana da Feira do Alvarinho, que se realizou nos dias 5 e 6 de julho, Monção encheu-se de apreciadores da casta rainha da região. Já sem feira mas com muito para descobrir, beber e comer, o município às margens do rio Minho convida ao passeio e ao lazer.
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É à sombra de um ulmeiro centenário, numa mesa corrida, que se enche o prato com o tradicional cordeiro assado, e o copo com Alvarinho ou outros vinhos da terra. Por esta altura, Monção é uma terra quente e a sombra daquela árvore frondosa permite conforto e uma certa frescura na refeição. Estamos na QUINTA DE VILA NOVA, na aldeia de Pias, conhecida como o lar do cordeiro à Monção, e onde se realiza a Feira da Foda (“foda à Monção” é o nome que os locais dão ao prato). Esta já foi em maio, mas cordeiro, esse, há todo o ano.
A quinta familiar de agroturismo, onde se podem organizar eventos, incluindo almoços, é, de resto, toda pensada para dar a conhecer o melhor da terra e para proporcionar conforto e frescura a quem visita. “Esta quinta era dos avós da minha mulher. E, quando o meu sogro faleceu há 12 anos, pensamos em transformar a casa dos caseiros em apartamentos para turistas”, conta Nuno Reis, que com a mulher Maria Ângela Reis e os dois filhos, desenvolveu ao longo dos últimos anos este projeto, muito dele com as próprias mãos, para colmatar a falta de mão de obra. Foram feitos quatro apartamentos T2, interligados, todos com sala de estar e cozinha, mas que se podem transformar tanto em T1 ou T3, como num T8 (casa completa). Ao lado do terraço há um espigueiro, a lembrar que estamos no Minho, uma piscina, e um terreno repleto de vinhas de Alvarinho.
“São cinco hectares de vinha, mas o meu sogro nunca tirou nada daqui. A vinha estava em mau estado, por isso, decidimos arrancar e plantar de novo. Foi com 50 anos que me tornei agricultor! Eu que não bebia vinho nem gostava de carneiro agora sou um especialista; ou melhor, um apreciador, porque continuo a não perceber nada disto”, ri Nuno, que deu uma volta à vida quando assumiu este projeto, tendo deixado o trabalho na área dos moldes de plástico.
Destas vinhas já chegou a fazer vinho e este ano quer retomar a produção. “Não sei o que vai sair dali, mas as uvas estão muito boas”, refere. Pode então ser que para o ano os almoços sejam já regados com o vinho da casa, da mais típica casta da região. O cordeiro, por seu lado, sai dos fornos e das mãos experientes de FERNANDO PEDREIRA, proprietário do restaurante O Encontro, também em Pias. A Evasões conheceu Fernando, antes do almoço, no forno comunitário da freguesia, numa demonstração de como se faz um cordeiro à moda de Monção. “Dá muito trabalho, é preciso dois dias para o preparar com os molhos.” A marinada não é segredo: “só vinho branco, vinagre e alho, ficando dois dias a marinar. “Temos de lhe dar uns três banhos por dia.” O forno comunitário tem espaço para cinco cordeiros e qualquer um o pode usar gratuitamente. Mas Fernando utiliza os seus próprios fornos para servir o seu restaurante. Na Feira da Foda, não tem tempo para descansar: “saem 300 animais e uma tonelada de arroz em três dias”.
A tradição de nome de “foda”, conta, será muita antiga. “Antes da Páscoa, levava-se o gado para o pasto na manhã antes de se ir para a feira vender. Alguns misturavam sal na comida para os animais beberem muita água. Chegavam à feira muito pesados. Quando quem comprava descobria o engodo, uns dias depois, dizia ‘fui a Pias e que grande foda levei’”, conta.
As gerações da Brejoeira
A história do Alvarinho na região é também muito antiga, mas foi só nos anos 1960 que se plantou a primeira vinha contínua da casta, pois a tradição e as necessidades agrícolas ditavam que as vinhas fossem de bordadura, ou seja, à volta de outras culturas, como as de cereais. E quem o fez – ainda antes de em 1974 o ter feito João António Cerdeira, fundador da Soalheiro, em Melgaço – foi Hermínia d'Oliveira Paes, em 1964, a última moradora do PALÁCIO DA BREJOEIRA. Foi ali mesmo, nos seus terrenos, que apostou na plantação do Alvarinho, já com a intenção de fazer um vinho de qualidade. Quem o explica é Sónia Cerqueira, que guia as visitas ao Palácio da Brejoeira, Monumento Nacional desde 1910. Antes, por ali já se plantava Vinhão, a casta tinta mais típica da região dos Vinhos Verdes e o vinho saía da antiga adega, também visitável. Durante o percurso, antes de se chegar à antiga e à nova adega e se provar o Alvarinho que se continua a produzir com distinção, fica a conhecer-se tanto a história do palácio como de quem o habitou ao longo dos anos.
“Quem o mandou edificar foi o fidalgo Luís Pereira Velho de Moscoso, em 1806. Teve de pedir licença ao rei porque não pertencia à família real”, refere. A obra demorou 28 anos a ficar concluída e Luís não viveu o suficiente para a ver terminada. O seu filho Simão Moscoso herdou a casa mas, como não casou nem teve filhos, esta foi encerrada, quando ele morreu, e posta em hasta pública. Em 1901, Pedro Maria da Fonseca Araújo, presidente da Associação Comercial do Porto, comprou o edifício e fez as várias reformas que deram ao seu interior o que se pode ver hoje. Quando morre, o filho fica com o Palácio e decide vendê-lo. “É comprado pelo comendador Francisco de Oliveira Paes para oferecer como prenda de aniversário à sua única filha, Hermínia, nos seus 18 anos.” Hermínia viveu ali o resto da sua vida, tendo vindo a falecer a 30 de dezembro de 2015, com 97 anos. Nunca casou nem teve filhos, mas para assegurar o futuro, criou uma sociedade anónima em 1999 – Palácio da Brejoeira Viticultores SA, que ficaria proprietária do palácio. Notícias recentes dão conta da venda a um grupo estrangeiro.
Grande parte do que se pode ver na atualidade vem das reformas de Pedro Araújo, como o jardim de inverno e uma estátua de D. Manuel II, de quem era conselheiro. O rei outorgou-lhe o título de Marquês da Brejoeira, em julho de 1910, o que se pouco lhe serviu, porque em outubro instaurou-se a república. Destaque também para o trabalho de azulejaria, com cenas da mitologia greco-romana. “Foi uma encomenda a Jorge Pinto”, um importante artista do século XX. Outra curiosidade é a pequena sala de teatro privada cujo cenário retrata a frontaria do Palácio da Brejoeira e os painéis simulam uma imagem a três dimensões dos jardins circundantes.
Quinta de Vila Nova
Estrada Municipal 508, 397, Pias
Tel.: 966 238 411
Preço: Mínimo três noites a partir de 552 euros (duas pessoas, três noites, sem pequeno almoço)
Palácio da Brejoeira
Quinta da Brejoeira, Pinheiros
Tel.: 251 666 129
Preço: 9,50 euros (visita); provas a partir dos 3 euros
Passadiços e cascata do Fojo
Lugar do Forno, Lara
Núcleo Museológico da Torre da Lapela
Travessa do Castelo, Lapela
Todos os dias, das 10h às 13h e das 14h às 18h
Preço: 1 euro (grátis para os habitantes de Monção)