Na Afurada, a Cafetaria do Mercado é uma paragem onde o coração também se alimenta
A Cafetaria do Mercado é um refúgio onde tradição e simplicidade se entrelaçam num ambiente acolhedor e carregado de memórias. Objetos que evocam as raízes portuguesas convivem com um móvel cujas louças aguardam para ser usadas para servir brunches, almoços tradicionais e lanches. Neste espaço, clientes e família tornam-se um só.
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Numa terra de pescadores onde o rio e o mar se encontram, surge o mercado, um espaço onde se fundem sons e aromas. Os pregões das bancas mistura-se com o ruído das máquinas da cozinha, o arrastar das cadeiras e o rumor das conversas. Uma banda sonora que, longe de incomodar, dá vida ao espaço. "O barulho faz-me sentido, porque estamos no mercado", afirma Elisabete Alves, conhecida pelos seus clientes por Betty. A cafetaria que hoje gere carrega o legado e o afeto de uma história familiar. Antes de dirigir o espaço, o local era da mãe, que ali servia moelas, rojões e café a quem passava. Quando a progenitora pensou em desistir, Betty, que aqui cresceu, decidiu abraçar o projeto. "Foi um passo natural, isto sempre fez parte de mim." Uma de cinco irmãos, sempre ajudou a mãe na cafetaria, que em agosto celebra 25 anos de portas abertas.
A paixão pelo local e a cozinha fez com que fosse ela a continuar a história da família. O negócio, porém, não ficou preso ao passado. Durante a pandemia, reinventou-se: nasceu "o primeiro brunch" no Mercado da Afurada, que ela apelidava de "pequeno-almoço retardado". À porta fechada, nos tempos do confinamento, preparava as caixas na cozinha, enquanto a filha, Benedita Silva, fazia as entregas. Hoje, essa criatividade traduz-se numa ementa que cruza tradições da cozinha portuguesa com toques de frescura. A matéria-prima vem dali mesmo, das bancas do mercado, ou de fornecedores de longa data.
Na dinâmica diária da cafetaria, não há divisões rígidas de tarefas: todos fazem tudo. Susana é impecável no atendimento, Anita está sempre pronta a repor o que falta e Isália, há pouco tempo na casa, já domina a carta, do choco frito às panquecas.
Betty conhece bem os seus clientes, sabe quem prefere o arroz de pato, quem não dispensa as pataniscas, e faz questão de preparar esses pratos especialmente para eles. Esse cuidado transforma cada refeição numa experiência pessoal, onde a proximidade vai além do mero atendimento. Há quem venha de barco todos os anos, turistas fiéis que não dispensam uma passagem por este espaço. Uma cliente envia-lhe ímanes de todos os lugares por onde passa. Outros tornaram-se parte da família da cafetaria, como um casal emigrado nos Estados Unidos que mantém a ligação enviando presentes pelo correio, um gesto que Betty guarda com carinho. E não é raro que clientes se deixem levar pela música e comecem a dançar ali mesmo, entre as mesas.
Apesar dos convites e da tentação de abrir noutro sítio, Betty prefere manter-se fiel a este lugar: "As pessoas vêm aqui para estarem comigo. Isto é mais do que um negócio, é uma história que continuo todos os dias". Para ela, preserva-se uma narrativa viva que se foi construindo ao longo de décadas. Expandir seria deixar escapar a essência da cafetaria, o ambiente acolhedor e o conhecimento íntimo com os clientes.
Cafetaria do Mercado
Rua da Praia, Loja 9, Vila Nova de GaiaTel.: 917 964 447
Web: instagram.com/_cafetariadomercado_
Das 7h às 19h, de terça a domingo
Preço: brunch de 6 a 12 euros/pessoa