No Museu do Tesouro Real, na Ajuda, as joias da coroa têm novo brilho (e ecos contemporâneos)
No Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, fica um dos maiores cofres museológicos do Mundo, e dentro dele, o Museu do Tesouro Real com uma ímpar coleção de joias reais, das quais 22 mil são pedras preciosas. Eis uma visita ao museu, a propósito da exposição "Ecos Reais", a inaugurar dia 18.
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A segunda maior pepita de ouro do Mundo que pesa 20 quilos; salvas de prata quinhentistas de aparato; um diamante em bruto descoberto no final do século XVIII; uma caixa de rapé do rei D. Luís I encomendada em ouro e prata com mil diamantes e 240 esmeraldas; e um diadema com 25 estrelas em ouro, prata e diamantes são alguns dos objetos notáveis expostos no Museu do Tesouro Real, instalado na ala poente do Palácio da Ajuda desde novembro de 2022 e que tem atraído as atenções do público e especialistas internacionais e vencido prémios de museologia.
Inédito quer graças ao acervo de bens da antiga monarquia portuguesa, quer graças ao projeto arquitetónico e ao cofre-forte de alta segurança onde está inserido, o museu conta a história do País através dos objetos da coroa, mas também da Europa e do Brasil - já que, lembra o diretor executivo Nuno Vale, "muitos monarcas casavam-se com cortes de Inglaterra, França e Itália" e havia, assim, intercâmbios de estilos e gostos. A maioria das joias não refletia, porém, somente o interesse dos monarcas pela moda: eram usadas, sobretudo, em sinal de poder e ostentação.
O tesouro real começou a constituir-se desde a fundação de Portugal em 1139, e em 1755, ano do trágico terramoto que arrasou dois terços de Lisboa, com o Paço Real à cabeça, perdeu-se quase todo. As peças sobreviventes foram levadas para a chamada Real Barraca, que o rei D. José I mandou erigir em madeira na Ajuda, mas viriam a perder-se num incêndio pouco depois. É, com efeito, sobre o período de reconstrução do tesouro monárquico, entre 1755 e 1910, que a exposição incide, organizando-o em 11 coleções temáticas divididas pelos três pisos do cofre.
Protegidas por vidros à prova de bala em salas climatizadas e iluminadas de uma forma cénica, entre o escuro e os reflexos, as peças deixam-se admirar não apenas pela visão, mas também através do tato. Numa política inclusiva, foram instaladas seis réplicas: da pepita de ouro nativo "Torrão"; da coroa real, da concha batismal; da bandeja que pertenceu à coleção privada de D. Luís I; da medalha comemorativa do 20.º ano do pontificado de Papa Clemente XI; e ainda dos pratos cobertos "dos lados" e "de relevé" em prata, de sopas e entradas usuais no século XVIII.
Ao longo das 11 coleções do Museu do Tesouro Real, os visitantes também podem admirar um diamante em bruto; moedas e medalhas da coroa; joias da coroa e objetos de joalharia detidos por soberanos e membros da família real entre os séculos XVII e XX; joias de insígnias régias e ordens honoríficas; prata de aparato; itens de coleções particulares; ofertas diplomáticas; itens da "capela real"; loiças da mesa real; e estojos e caixotes onde as joias, têxteis e baixelas eram transportados, como sucedeu quando a família real saiu para o Brasil, nas Invasões Francesas.
Quem hoje admira este espólio está, provavelmente, longe de imaginar que até o museu existir ele esteve arredado dos olhares públicos, mantido em local seguro desde a primeira República. Graças a um "projeto ambicioso", considera o responsável Nuno Vale, a ímpar coleção de joias reais ganhou casa num "dos maiores cofres museológicos do Mundo" - com duas portas de 40 centímetros de espessura blindadas, 40 metros de profundidade e dez de altura e de largura -, construído na ala poente que ao fim de 226 anos rematou o projeto inicial do Palácio da Ajuda.
"Ecos Reais", visitas guiadas e uma loja
"Ecos Reais" em exposição
A exposição temporária "Ecos Reais" inaugura a 18 de setembro, expondo no átrio em frente à entrada do cofre-forte 20 peças de joalharia contemporânea inspiradas em peças do acervo do museu. Os autores das peças de arte, produzidas em ouro, prata e pedras semi-preciosas, são alunos e ex-alunos já consagrados do Centro de Joalharia de Lisboa e da Escola Superior de Arte & Design, em Matosinhos, com quem o museu celebrou uma parceria. "Queremos que a exposição contribua para a dinamização da joalharia nacional", explica Nuno Vale. O vencedor desenhará uma coleção exclusiva para a loja do museu. "Ecos Reais" ficará até 18 de janeiro.
Visitas guiadas gratuitas
O Museu do Tesouro Real organiza visitas guiadas regularmente, tendo já anunciado datas em setembro. Sábado, 13, haverá uma visita orientada às principais peças, gratuita; e dias 14 e 28 também, das 11h30 às 13h, com o custo de 13 euros/pessoa. No fim de semana de 20 e 21 de setembro, duas visitas orientadas farão a ponte entre a exposição temporária e a permanente - "Joias Descravadas", dia 20, "propõe um olhar renovado sobre peças históricas que inspiraram criações contemporâneas"; e "Joias de Luto", a 21, "evoca a memória da rainha D. Maria Pia e a tradição vitoriana". Dia 27 tem lugar uma sessão sobre materiais que podem voltar a ter valor.
Preciosas recordações
Na loja do museu, situada depois da cafetaria, os visitantes encontram postais, sacos, lenços e cadernos de apontamentos com designs inspirados na insígnia da Ordem do Tosão de Ouro de D. João VI, na baixela Germain ou na laça de esmeraldas da rainha D. Maria Pia. Sabonetes e objetos utilitários alusivos a Lisboa são outros dos itens de merchandising. Nas prateleiras há também catálogos do museu, como o que revela as histórias por detrás das 25 peças de maior importância, monografias e publicações científicas acerca do tema. Joias de autor, peças em porcelana e outras em filigrana com selo nacional também compõem a oferta da loja do museu.
Museu do Tesouro Real
Calçada da Ajuda (Palácio Nacional da Ajuda), Lisboa
Tel.: 210312814/211163425
Web: www.tesouroreal.pt
Todos os dias, das 10h às 19h (até 30 de setembro). De outubro a 30 de abril, das 10h às 18h.
Preço: 11 euros/adulto; 7,50 euros/jovens dos 7 aos 24 anos e maiores de 65
Visita orientada gratuita no 2.º sábado de cada mês.