Entre o mar e o pinhal, a terra e o arrozal, o chef Vítor Sobral sente-se em casa na consultoria gastronómica da Quinta da Comporta, na aldeia do Carvalhal, cujo restaurante Inari dá agora o salto para outro patamar.
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Depois de uma manhã passada na horta com meio hectare em forma de mandala, Vítor Sobral pousa na mesa uma apurada salada de tomate e cebola acabados de colher, provando como é simples fazer tanto com o que a agricultura biológica do hotel Quinta da Comporta dá à cozinha do Inari Comporta. Ter aceitado o desafio do arquiteto fundador do hotel - e, acima de tudo, seu amigo pessoal - Miguel Câncio Martins “foi o culminar de um desejo” que sempre teve de poder vir a desenvolver um projeto gastronómico na região, tão perto de Melides, terra-natal dos pais.
Prestes a somar 40 anos de carreira, o chef de referência na gastronomia moderna portuguesa rodeou-se de parte da equipa pré-estabelecida, acrescentando à nova fase do restaurante Inari Luís Espadana, com quem divide o fogão há quase três décadas (e que assume agora o cargo executivo no hotel). O menu mistura o que é local, regional e internacional, seja nos produtos e nas propostas, em que não faltam por exemplo uma salada de peito de frango grelhado a citar a clássica caesar, ou um linguine com molho de tomate e camarão, ou uma burrata de Azeitão.
Sob proteção de Inari - a divindade japonesa que representa prosperidade no cultivo e colheita do arroz e que surge materializada na obra de Joana Vasconcelos suspensa no teto -, prova-se gaspacho de tomate e morango com pinhão de Alcácer; robalo marinado (ao estilo do ceviche) com coco e batata-doce; bolinhos de arroz com queijo açoriano e geleia de pimenta; e tempura de vegetais da horta com maionese de algas, entre outros petiscos de partilha. No que toca aos principais, Vítor Sobral aposta nos clássicos, com o cereal local a dar cama ao peixe e à carne.
São obrigatórios o lombo de corvina corada com arroz de forno e vinagrete de marisco; o arroz de camarão-tigre; e o vegetariano arroz de tomate com bróculos tostados, burrata e sementes de abóbora. Nas sobremesas, o destaque recai sobre o creme queimado, um clássico do chef Vítor Sobral, aqui feito com base de arroz doce. A acompanhar surge uma competente carta de vinhos, com 80% da oferta disponível a copo. “Queremos conjugar o serviço de excelência da Quinta da Comporta com uma gastronomia com sabor, identidade e portugalidade”, acrescenta.
No final de maio, início de junho é expectável que a carta venha a sofrer alterações, em função do balanço de pedidos feitos pelos clientes. Com a nova e forte aposta no Inari, Câncio Martins procura reforçar o lugar do seu projeto no roteiro gastronómico da região, ajudando a “contar e preservar a história da Comporta, a sua cultura e tradições que moldam o seu estilo de vida”. O processo, longe de terminar, abrange todas as áreas do hotel vocacionado para o bem-estar e passará, em breve, pelo aumento substancial da horta e pela criação de um jardim romântico.
Inari Comporta
Rua Alto do Pina, 2 (Carvalhal), Comporta
Tel.: 265 112 395
Web: quintadacomporta.com
Das 12h30 às 22h. Nunca encerra.
Preço médio: 55 euros