Banco avisou autoridades para levantamentos de dinheiro vivo ao balcão, mas arguidos continuaram a fazer circular fortuna sem medos.
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Nem um alerta bancário à Polícia Judiciária (PJ) e ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), justificado por levantamentos no montante de mais de um milhão de euros ao balcão do Eurobic, travou o esquema delineado por Luís Filipe Vieira para criar um "saco azul" no Benfica. Segundo a acusação do Ministério Público (MP), depois daquele alerta, rapidamente foi criada uma segunda conta bancária para fazer circular milhares de euros, cuja finalidade não foi apurada pela investigação.
Para o MP, foi o ex-líder do Benfica quem "decidiu arranjar um plano com o fim de fazer sair o dinheiro das contas da Benfica SAD e da Benfica Estádio, sob forma de pagamentos, e fazê-lo regressar à posse das mesmas, sob a forma de numerário". Um plano que, a partir de 2016, levou o clube a pagar avultadas somas à empresa Questão Flexível, de José Bernardes.
O esquema não era complexo. A Questão Flexível emitia faturas por serviços fictícios (na realidade, eram prestados por outras empresas contratadas pelo Benfica) e as duas referidas sociedades do universo encarnado transferiam os montantes correspondentes para uma conta do Eurobic gerida por José Bernardes.
Este emitia, em seguida, um cheque à empresa Capinvest, com sede em Dacar, Senegal, que rapidamente era endossado a Paulo Silva, amigo de Bernardes há mais de 30 anos. Os dois dirigiam-se, então, ao balcão do Eurobic e levantavam, em notas, o valor transferido pela Benfica SAD ou Benfica Estádio.
O dinheiro era, por fim, entregue ao ex-diretor financeiro do Benfica Miguel Moreira, que, de forma oculta, o fazia regressar à esfera benfiquista.
Tudo corria bem e José Bernardes até enviava emails ao Eurobic a indicar o número de notas por valor facial que desejava receber. Foi o que fez no início de agosto de 2017, mas, já desconfiados, os responsáveis do Eurobic recusaram pagar os 250 mil euros em dinheiro solicitados por José Bernardes. Nessa altura, o banco também comunicou o caso à PJ e ao DCIAP e suspendeu temporariamente as operações de débito da conta.
Novas contas após alerta
Os seis homens envolvidos no esquema, e agora acusados de fraude fiscal qualificada e falsificação de documentos, não se assustaram. Três dias depois do aviso às autoridades, José Bernardes abriu uma nova conta em nome da Questão Flexível, desta vez no Millennium, e passou a receber as transferências do Benfica por ali.
Simultaneamente, pediu a José Raposo, administrador da "Capinvest", que também abrisse uma conta no mesmo banco, e o dinheiro continuou a circular. Só que agora era José Raposo quem o levantava ao balcão, para o entregar, em notas, a Paulo Silva, que o fazia chegar a Bernardes. Este empresário, depois de retirar uma comissão de 11%, devolvia o restante ao amigo Miguel Moreira.