Com um total de 19 transferências bancárias, a Benfica SAD e a Benfica Estádio canalizaram 2,2 milhões de euros para uma empresa de consultadoria, constituída em 2015 com 500 euros, que, de acordo com o Ministério Público (MP), terá servido apenas para criar um "saco azul".
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O pagamento de serviços fictícios terá permitido devolver à esfera benfiquista 1,4 milhões de euros em dinheiro vivo. O MP reclama 585 mil euros aos arguidos. A investigação do chamado processo Saco Azul só não apurou para que serviram aquelas notas.
Além da Benfica SAD e da Benfica Estádio, também o ex-presidente Luís Filipe Vieira, o administrador Domingos Soares de Oliveira e o ex-diretor financeiro Miguel Moreira foram acusados de fraude fiscal qualificada e falsificação de documentos. No lote de arguidos estão ainda o empresário José Bernardes e a sua empresa de consultadoria Questão Flexível", Paulo Silva e José Raposo, dois homens que estão sob suspeita de terem ajudado Bernardes no esquema.
De acordo com a acusação do MP, entre dezembro de 2016 e dezembro de 2017, as empresas Benfica SAD e Estádio, por ordem dos administradores arguidos, contrataram serviços de consultadoria e informática da "Questão Flexível". Durante um ano, os milhões foram saindo da esfera do Benfica para contas bancárias da empresa de Bernardes. No total foram 2 265 660 euros
Para o MP, os arguidos "tinham perfeita consciência de que as faturas emitidas pela "Questão Flexível", em benefício das sociedades Benfica SAD e Benfica Estádio, S.A., não titulavam quaisquer operações económicas". Seriam então "faturas de favor", destinadas apenas a justificar contabilisticamente a saída de dinheiro do Benfica, pelas quais Bernardes cobraria 11% do valor, segundo o MP.
Levantamentos em notas
A acusação descreve os alegados movimentos bancários que terão sido utilizados para a constituição do "saco azul".
Depois de receber as transferências do Benfica, Bernardes reencaminhava sensivelmente os mesmos valores para contas tituladas por José Raposo. Para justificar estes movimentos, Raposo terá passado faturas-recibo, emitidas no Dakar, em nome da firma Capinveste. Estes supostos serviços, que o MP acredita serem fictícios, eram de "serviços de consultadoria informática para projeto tecnológico".
Depois, José Raposo fazia avultados levantamentos em numerário que eram justificados com a necessidade de comprar mercadoria. A acusação descreve, por exemplo, que este arguido levantou um total de 170 mil euros, em poucas semanas, entre o final de 2017 e o início de 2018.
"O dinheiro foi depois entregue pelo arguido José Raposo ao arguido Paulo Silva, que o entregou a José Bernardes, que, por sua vez, o fez chegar (descontando uma parte), por intermédio do arguido Miguel Moreira em circunstância não concretamente apuradas, à posse/disponibilidade fática das arguidas Benfica SAD e Benfica Estádio, SA", lê-se na acusação.
Só a Luís Filipe Vieira, o MP imputa três crimes de fraude fiscal e 19 de falsificação.