"Segundo comandante" do Aeródromo de Manobra 1, em Maceda, mandou comprar 162 quilos de leitão e bebidas que custaram cerca de 12 mil euros.
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Com especialidade da Polícia Aérea, o tenente-coronel Francisco Cordeiro esteve colocado no Aeródromo de Manobra 1 (AM1), em Maceda, Ovar, em duas ocasiões: entre agosto de 2002 e maio de 2008; e entre fevereiro de 2015 e dezembro de 2020 (neste último período, e durante sete meses, na situação de reserva). Mas foi a partir de outubro de 2018 que, segundo o Ministério Público (MP), o oficial terá cometido os 38 crimes de que é acusado.
Atente-se nos dois cães de Francisco Cordeiro, colocados no Centro Cinotécnico do AM1, com direito a tratamento gratuito pela veterinária da base. E que, em dez ocasiões, foram alimentados com frangos provenientes da messe e lá cozinhados e que estavam destinados "a ali serem consumidos pelos militares e pelos trabalhadores civis do AM1".
O tratamento VIP dado aos animais estendeu-se ao agregado familiar do tenente-coronel que deveria ter ficado no alojamento designado "Piso Superior".
Mas, graças ao comandante da base, coronel José Nogueira, também arguido, teve direito a ficar na área VIP, juntamente com a mulher, filha, genro e neto, "sem qualquer pagamento associado", nota o MP.
A proximidade entre os dois oficiais poderá ajudar a explicar o comportamento de Francisco Cordeiro, e pode ler-se na acusação que "apesar de oficialmente não ter sido designado como segundo-comandante do AM1 e de não haver registo no seu percurso militar de tal função (...) era, no entanto, visto como tal, por extrapolar daquilo que seria da sua competência como comandante do Grupo de Apoio".
Como, por exemplo, manter "os subordinados sob o seu controlo, de modo a concretizarem as suas vontades, dado que aqueles sentiam receio do mesmo de virem a sofrer uma qualquer represália, caso não fossem cumpridas as suas ordens".
Quilos de leitão
A messe, por causa dos produtos que por ela passavam, era um dos pontos centrais (embora não o único) do comportamento alegadamente criminoso dos arguidos. Veja-se como, assinala o MP, o dia 27 de agosto de 2020, quando Cordeiro "ordenou que se esgotasse o plafond disponível na respetiva rubrica com a aquisição de 162 quilos de leitão, no montante de 2187 euros". E, menos de um mês depois, mandou que se comprasse "mais de meio milhar de garrafas de vinho e outras bebidas diferenciadas, no montante de 5225,58 euros".
Mas, já em maio do ano anterior, o oficial tinha escolhido "vinhos diferenciados e outras bebidas, e ordenou a sua compra através do arguido sargento-ajudante Hugo Diogo, no montante de 4173,32 euros".
Noutra ocasião, refere o MP, dirigiu-se a um sargento-ajudante e "disse-lhe para lhe arranjar quatro pães de ló de Ovar e quatro bolos-reis, já que no fim de semana ia a Vinhais [de onde é natural], mas quando já ia embora, voltou-se para trás e disse que era melhor cinco unidades de cada, já que lhe "podia dar a fome durante a viagem". Está acusado de 25 crimes de recebimento indevido de vantagem, 17 de abuso de poder, nove de peculato de uso e um de peculato