O estudante de Informática detido por planear um ataque terrorista na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa ensaiou a matança dois dias antes de ser preso pela Polícia Judiciária (PJ), que passou a monitorizar o rapaz 24 horas por dia, mal o identificou.
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Na quinta-feira, 10 de fevereiro, João Real Carreira foi detido, no quarto de um apartamento dos Olivais, por inspetores da Unidade Nacional de Contra Terrorismo, na posse de armas, botijas de gás e garrafas de gasolina, que iriam servir para o ataque à faculdade. Mas, na terça-feira, os mesmos elementos da PJ já seguiam todos os seus movimentos e estavam prontos para o prender perante qualquer sinal de agressividade.
Plano pormenorizado
João terá começado por apontar o ataque para a terça-feira, mas recuou. Pelo menos, é o que deixou apontado em papéis manuscritos, apreendidos no quarto, onde a PJ descobriu os documentos com os planos pormenorizados do ataque. Esse dia foi de ensaio.
À hora habitual, saiu de casa, com a mochila às costas. Lá dentro, teria uma besta, facas e bombas artesanais, feitas a partir de pequenas botijas de gás. Foi para a faculdade e deu todos os passos que tinha previsto no plano, mas sem chegar a sacar as armas. Só não sabia que, sempre perto dele, estavam elementos do contraterrorismo, prontos para o travar, caso tentasse pôr em prática o planeado.
Desde que o FBI alertou para um possível atentado, sem identificar o suspeito, a PJ procurou saber quem era o indivíduo e acabou por chegar ao nome e morada do estudante, através das localizações e IP da Internet. Da aldeia da Lapa Furada, na Batalha, onde vivem os pais, a investigação localizou o apartamento dos Olivais e nunca mais deixou o estudante sem apertada vigilância. Na véspera do ataque, foi detido e todo o material que estava no seu "quartel-general" dos Olivais foi apreendido.
João quereria matar indiscriminadamente alunos. Os estudantes estavam em fase de exames presenciais e, por isso, estariam concentrados em poucas salas da instituição, frequentada por mais de 5500 alunos de vários níveis de ensino e mais de 700 professores, investigadores e pessoal não docente. Mas João tinha um alvo principal. Era um professor de uma cadeira de licenciatura em Informática que odiaria.
vídeos violentos
Passava noites e dias a visualizar vídeos violentos, de tal forma que as imagens de morte e sangue lhe moldaram a personalidade, já de si introvertida, antissocial. Desenraizado da sua pacata terra natal, a Lapa Furada, na Batalha, o estudante de Engenharia Informática seria vítima de bullying e fechou-se ainda mais. O facto de viver isolado num quarto alugado, num apartamento, nos Olivais, em Lisboa, que dividia com outros estudantes, terá contribuído para a descompensação.
João fica internado no hospital prisão
João foi colocado em prisão preventiva pelo Tribunal de Instrução Criminal, mas, em vez de levar o detido para a cadeia de Lisboa, os Serviços Prisionais transportaram-no para o Hospital Prisional de Caxias, onde foi medicado e internado. Estava demasiado perturbado para ficar num estabelecimento prisional com outros reclusos. Na semana passada, um juiz de instrução criminal de Lisboa decidiu alterar as medidas de coação. Mudou a preventiva para o internamento, mas na prática as condições de detenção de João em nada mudaram.
Média de 16,5
João entrou na primeira opção, em Engenharia Informática, com média de 16,5 valores. Segundo a listagem de candidatos, o jovem tinha média de 16,8 valores no Secundário.
Premeditação
As autoridades apuraram que o plano começou a ser delineado há semanas e previa, num primeiro tempo, a colocação, nas entradas da faculdade, das bombas artesanais.
Influenciado
Os pais do estudante acreditam ter sido uma amiga virtual de João a influenciá-lo para o fenómeno dos assassínios em massa.