Sabiam que vários empresários chineses depositavam regularmente nos bancos avultadas quantias em dinheiro que não declaravam ao Fisco e aproveitaram para os assaltar, seguros de que não se queixariam às autoridades.
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Altamente profissionalizado e organizado, este grupo de cinco assaltantes também atacava funcionários de empresas de transportes de valores e conseguiu, em dez golpes, lucrar 375 mil euros, até ser detido pela Polícia Judiciária (PJ) do Porto em janeiro deste ano, em flagrante delito. Foram agora acusados pelo Ministério Público (MP) de crimes de roubo, furto, incêndio e falsificação de documentos.
De acordo com a acusação do MP, o grupo era liderado por José Maia, 50 anos, saído da cadeia em 2016 e atualmente a cumprir quatro anos de prisão por roubo. Luís Nunes, 32 anos, e Fernando Teixeira, de 31, eram os outros elementos do núcleo duro. Especializaram-se em dois tipos de assaltos à mão armada, altamente rentáveis.
Com informações privilegiadas provenientes da empresa de transportes de valores Esegur, assaltavam os funcionários que abasteciam multibancos, sempre com o valor máximo de 75 mil euros de cada vez. O segundo tipo de alvo eram os cidadãos chineses, atacados quando transportavam elevadas quantias de dinheiro.
Para o MP, os arguidos sabiam quando os comerciantes da comunidade chinesa da zona da Varziela, em Vila do Conde, se deslocavam ao Porto, a Braga ou a Famalicão para depositar as notas. "Perceberam os arguidos que essa comunidade é extremamente fechada e algum desse dinheiro não teria proveniência declarada, razão pela qual esses cidadãos dificilmente denunciariam às autoridades os assaltos de que fossem vítimas ou depois não tinham interesse no prosseguimento dos processos criminais", garante o MP, na acusação a que o JN teve acesso.
Foi exatamente isso que aconteceu a 20 de dezembro do ano passado quando um cidadão chinês, que a investigação nunca conseguiu identificar, foi assaltado pelo grupo. Desta vítima, apenas se sabe que trabalha na zona da Varziela e as autoridades apenas apuraram a identidade do proprietário do BMW Serie 1 que conduzia.
Foi no Largo Antunes Lima, no Prado, em Braga, que a vítima foi abordada por três dos arguidos que lhe mostraram uma caçadeira para o forçar a entregar vários maços de notas. A quantia nunca foi apurada porque o indivíduo nunca se queixou, nem se identificou. E o assalto só foi investigado porque algumas testemunhas alertaram as autoridades.
Na mesma cadeia
Três dos detidos têm antecedentes criminais e chegaram a cruzar-se no estabelecimento prisional onde cumpriram pena ao mesmo tempo. É possível que se tenham conhecido na cadeia.
Inibidor de sinal
Quando foram detidos, tinham um inibidor de frequências que "anula" o sinal de telemóvel.
18 mil euros foram recuperados pela Polícia Judiciária. Trata-se de dinheiro supostamente proveniente de assaltos. Foram também apreendidos nas buscas roupa dos arguidos e seis automóveis utilizados nos assaltos.