Entre a cascata de empresas usadas pela rede de fraude e evasão fiscal liderada pelo marido da apresentadora Ana Lúcia Matos, Max Cardoso, a investigação da Polícia Judiciária (PJ) do Porto detetou uma firma de fachada oficialmente detida por uma auxiliar de ação educativa da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira.
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Pelas contas da mulher, que ganha pouco mais do que o ordenado mínimo, passaram cerca de 58 milhões de euros desde 2018. Os 14 arguidos da Operação Admiral, que terão movimentado 2,2 mil milhões de euros com 8845 empresas, devem hoje conhecer as medidas de coação decretadas pelo juiz do Tribunal de Instrução Criminal do Porto Pedro Miguel Vieira.
Funcionária pública desde 2015, Mónica V., 44 anos, é prima de uma das principais ajudantes de Max Cardoso, Sandra G., que terá aproveitado as dificuldades económicas da familiar para a aliciar a entrar no esquema e figurar como possuidora do capital social da empresa Galoshaco. Esta firma foi criada no Chipre, sem a presença da auxiliar de educação da Câmara de Vila Franca de Xira, que se limitou a abrir inúmeras contas bancárias em nome dessa empresa em Portugal e obedecer às ordens da prima, a troco de pequenas quantias.
A partir de 2018, a empresa declarou à Autoridade Tributária do Chipre, onde estava formalmente sediada, ter realizado transmissões intracomunitárias triangulares de mais de 58 milhões de euros. A firma fechou em 2020. O dinheiro das vendas de telemóveis e equipamentos informáticos que eram essencialmente feitas através da plataforma Amazon Marketplace era canalizado para as contas tituladas pela auxiliar no Deutsche Bank, em Portugal.
O esquema, recorde-se, aproveitava o facto de não haver lugar a cobrança de IVA em transações intracomunitárias e a rede criou uma multitude de empresas destinadas a simular essas transações para conseguir apropriar-se do IVA. Portugal era um país usado como "fim de linha", onde o dinheiro era canalizado para ser dividido entre os elementos da rede.
Estado lesado em 300 milhões
O Estado português terá sido lesado em cerca de 300 milhões de euros, em sede de IVA, mas também de IRC das empresas formalmente detidas por testas de ferro, como a auxiliar da Câmara de Vila Franca de Xira.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, a investigação acredita que o papel desta mulher permitiu à rede uma lucro ilegítimo de mais de dez milhões de euros. Nos interrogatórios, Mónica V. terá confessado e descrito o esquema de triangulação de empresas a nível europeu com abertura de contas bancárias em Portugal.
Os milhões movimentados pela prima Sandra G. e por Max Cardoso, marido da apresentadora, serviram para adquirir propriedades a pronto pagamento, carros de luxo, assim como viagens. A investigação também acredita que os principais arguidos tenham canalizado dinheiro para paraísos fiscais. vO