Empresários renunciaram ao "mecenato" alegando que polémica à volta de ex-presidente encarnado prejudicou a sua imagem e violou o contrato.
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O Sport Lisboa e Benfica moveu uma ação no Tribunal Cível de Lisboa contra duas empresas, sediadas no Norte do país, patrocinadoras da equipa feminina de futebol, que decidiram renunciar ao contrato na sequência da detenção do ex-presidente encarnado Luís Filipe Vieira.
No processo intentado há vários meses, a administração benfiquista reclama um mínimo de 100 mil euros, alegando que a resolução do contrato não tem fundamento. Já os patrocinadores garantem que o clube não cumpriu as obrigações e que a detenção do ex-presidente das águias criou desprestígio e distanciamento do público para com a marca Benfica e os seus parceiros. Dizem ter sido violada a obrigação mútua contratual de não lesar o bom nome e reputação das partes.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o contrato foi celebrado em março de 2021. A Hemera, uma empresa de comércio de colchões de Matosinhos, firmou o acordo com o Benfica para apoiar a equipa feminina de futebol até à época 2024/2025.
430 mil euros
O valor total era de mais de 430 mil euros. Como a Hemera é uma empresa com poucos anos e faturação reduzida, o Benfica exigiu uma garantia de pagamento. Foi assim envolvida uma outra empresa de colchões, a Planiflex, com sede em Albergaria, que ficou como uma espécie de fiador.
O contrato previa uma série de contrapartidas para a Hemera. Publicidade nas camisolas e nos painéis das conferências de imprensa, assim como na Benfica TV e no jornal do clube. Também pressupunha publicações nas redes sociais do clube e a utilização de direitos de imagem de atletas, como Telma Monteiro.
O Benfica disponibilizaria dados de sócios à empresa, desde que os mesmos assim o consentissem, de acordo com a lei de proteção de dados. Assim, enquanto parceira do clube, a empresa poderia efetuar ações de marketing.
O patrocínio da época 2020/2021 foi pago e a fatura da época seguinte foi emitida cinco dias após a detenção de Vieira. Para os patrocinadores, que já acreditavam que o Benfica não estava a cumprir algumas obrigações, foi a gota de água. Numa carta dirigida ao clube denunciaram o contrato. E o primeiro argumento invocado foi que a detenção do ainda presidente Vieira afetou a reputação do Benfica.
Consequentemente, como a Hemera surgia associada ao prestígio e reputação da marca, os empresários entenderam que o escândalo da Operação Cartão Vermelho veio prejudicá-los e quiseram afastar-se.
O Benfica contra-argumentou assegurando nunca se ter comprometido a ceder a sua base de dados e assegurou ter respeitado as contrapartidas do patrocínio. Reclamou o pagamento da época seguinte e tentou chegar a acordo. Mas como as empresas não a liquidaram, o caso acabou nos tribunais.
Operação
Ex-presidente na mira do "Cartão Vermelho"
Detido a 7 de julho do ano passado, Luís Filipe Vieira foi indiciado por ter alegadamente desfalcado o Benfica, através de comissões fictícias ou inflacionadas nos negócios de 55 jogadores. No total, serão cerca de dez milhões de euros pagos aos empresários Bruno Macedo, Ulisses Santos, Isidoro Gímenez e Bertolucci. A investigação acredita que os agentes eram testas de ferro de Vieira, que também é suspeito de fraude na venda de ações do clube, com o empresário José António dos Santos. Das suspeitas faz parte um alegado golpe ao Fundo de Resolução, através da compra da dívida de 54 milhões que a Imosteps tem para com o Novo Banco. A dívida terá sido indiretamente adquirida por Vieira com nove milhões de euros financiados pelo "Rei dos Frangos".
Pormenores
Sem comentários
O JN contactou a Planiflex e o seu advogado, Nuno Marques, que não quiseram prestar esclarecimentos. Também fonte do Benfica disse não querer comentar.
Reembolso
Os empresários pediram ao Benfica o reembolso do patrocínio pago para a época 2020/2021, por entenderem que o clube não cumpriu a sua parte do contrato.
Novo patrocinador
Ao tribunal, o Benfica admitiu poder vir a encontrar novo patrocínio para as próximas épocas, pelo que apenas reclama as verbas de 2021/2022. Mas admite pedir o total caso não encontre outro.