Processo "Saco Azul" já não está sob segredo de justiça, mas advogados desconhecem perícia financeira a ex-árbitro.
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O ex-árbitro Bruno Paixão está a ser investigado por suspeitas de corrupção desportiva pela Polícia Judiciária (PJ) no processo conhecido por "Saco Azul" do Benfica. Mas este processo apenas se restringe a crimes de fraude fiscal e nunca o clube encarnado foi confrontado indícios de corrupção, apesar de o processo já não estar em segredo de justiça. Por isso, os advogados da SAD encarnada, que é arguida no processo, exigem ao Ministério Público (MP) que esclareça se lhes foi escondida informação sobre novas suspeitas.
Num requerimento dirigido ao magistrado do MP do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, que dirige o inquérito do "Saco Azul", os advogados João Medeiros, Paulo Saragoça da Matta e Rui Patrício manifestam surpresa com as notícias que, recentemente, levantaram o véu sobre uma investigação ao ex-árbitro de futebol Bruno Paixão.
Segundo avançou a TVI, o antigo juiz de primeira categoria terá recebido milhares de euros de uma empresa de informática à qual o clube encarnado pagou 1,9 milhões de euros em serviços de consultadoria que, para o Ministério Público (MP), foram fictícios e serviram apenas para camuflar pagamentos.
Nesse mesmo inquérito foram realizadas perícias financeiras às empresas Best for Business e Questão Flexível, do empresário José Bernardes, as quais detetaram os pagamentos a Bruno Paixão. Terá assim nascido uma nova linha de investigação que versa, agora, sobre corrupção desportiva. É que, enquanto ainda apitava jogos da Liga, Bruno Paixão poderá ter recebido milhares de euros, alegadamente provenientes do Benfica, através de José Bernardes.
vários interrogatórios
O problema é que, no inquérito do "Saco Azul", a dezena de arguidos constituída já foi interrogada várias vezes e nenhum deles terá sido confrontado com as suspeitas de corrupção desportiva. Incluindo a SAD benfiquista, o ex-presidente Luís Filipe Vieira, o diretor financeiro Miguel Moreira e o administrador Domingos Soares de Oliveira, além do empresário José Bernardes. Já o ex-árbitro Bruno Paixão ainda não é arguido.
No requerimento dirigido ao MP, os advogados do Benfica chegam à conclusão de que "das três uma: ou a notícia não tem fundamento ou foi escondida dos arguidos uma suposta linha de investigação ou então as autoridades durante cinco anos, por incompreensível inércia, digamos, não fizeram o que lhes competia". E ironizam, afirmando não querer acreditar que, num Estado de direito, o MP possa ter sonegado informação ou ter sido incompetente.
Queixas
Encarnados dizem-se prejudicados
No requerimento ao MP, o Benfica diz que está a ser prejudicado em termos económicos e reputacionais por uma investigação que desconhece e por suspeitas com as quais nunca foi confrontado. "Todas estas notícias têm enorme impacto reputacional e até patrimonial na requerente, que além do campo desportivo também atua em mercados regulados... E isto é tanto mais assim quando nos meios de comunicação social se antecipam cenários de despromoção, descida de divisão e suspensão de competições", concluíram os advogados João Medeiros, Paulo Saragoça da Matta e Rui Patrício.
Pormenores
Agenda com árbitros
José Bernardes, o empresário suspeito de ser testa de ferro num esquema destinado a retirar dois milhões de euros do Benfica, possuía em casa uma agenda com nomes e contactos de árbitros que foi apreendida pela Polícia Judiciária, aquando das primeiras buscas do processo "Saco Azul", em 2018.
Alerta dos bancos
O inquérito do "Saco Azul" nasceu de um alerta do sistema de vigilância bancário. As saídas de elevadas verbas do Benfica para empresas de dimensão reduzida, como eram as firmas de Bernardes, levantaram suspeitas e foram comunicadas à PJ.