Rigoroso processo de escrutínio feito pela cúpula do MAL incluía entrevista presencial feita por chefe da PSP detido.
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Centenas de membros do Movimento Armilar Lusitano (MAL) tiveram de passar por um rigoroso processo de seleção para integrar a milícia armada neonazi que pretendia, à força, derrubar o regime vigente em Portugal. Todos preencheram boletins com informações pessoais, responderam a questionários online e compareceram a entrevistas presenciais conduzidas pelo chefe da PSP, Bruno Gonçalves, um dos seis detidos pela Polícia Judiciária (PJ), na operação “Desarme 3D”.
O MAL foi criado, em 2018, pelo polícia Bruno Gonçalves, pelo ex-emigrante Bruno Carrilho e por uma vigilante, com o objetivo “formar um movimento político apoiado numa milícia armada para enfrentar as ameaças” a Portugal e aos portugueses.
Com inspiração em grupos estrangeiros, especialmente os “Cidadãos do Reich”, movimento composto por ex-militares e polícias que pretendia tomar o poder na Alemanha através de ações violentas, o MAL, apurou a investigação da PJ, começou por espalhar, online, uma narrativa em torno de um “cenário de guerra civilizacional” causada pelas migrações e com o intuito de alcançar a “substituição demográfica dos brancos”. E, a partir de 2021, apostou no recrutamento de seguidores.
Questionário e entrevista
A ideologia nacionalista e de incitamento ao ódio e violência contra imigrantes depressa cativou elementos de grupos de extrema-direita como os “Gárgulas de Portugal”, “Soldiers of Odin, “Nova Ordem Portuguesa” e “Nova Ordem Social”, fundada por Mário Machado. Porém, nem todos eram admitidos, uma vez que os candidatos eram rigorosamente escrutinados pela cúpula do MAL antes de serem integrados no movimento.
Obrigados a preencher boletins com dados biográficos, constituição física e profissão, também tinham de indicar as aptidões militares ou conhecimentos sobre primeiros socorros.
Seguia-se a resposta a um questionário online, que servia para o ex-emigrante Bruno Carrilho avaliar o nível de radicalização de cada um, e os que eram aprovados submetiam-se a uma entrevista presencial conduzida pelo polícia Bruno Gonçalves.
Quem cumprisse os requisitos definidos pela direção do MAL era adicionado a grupos fechados de Telegram e Signal e, depois, integrado numa das “bolsas de resistência” criadas em pontos estratégicos do país. Estas estruturas, sob a capa de jogos de airsoft e paintball, promoviam treinos e formação militar aos seus elementos, porque a estratégia do MAL era, à semelhança da preconizada por movimentos nacionalistas noutros países, substituir os atuais organismos do Estado pela luta armada.