Arguidos respondem, no Porto, por burlas informáticas, moeda falsa e outros crimes. O tráfico passava pelo Grindr e ainda pelo WhatsApp.
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Enamorados, juntaram os trapinhos e, a partir de casa ou de hotéis, abriram vários negócios. Viviam à larga e felizes, até que a Polícia Judiciária (PJ) meteu o nariz e meteu ambos na cadeia. Agora, vão responder por crimes que vão do tráfico de droga a moeda falsa, passando por burlas informáticas, acesso ilegítimo a contas bancárias e falsificação de documentos. Em prisão preventiva, o casal começa a ser julgado na próxima semana, pelo Tribunal S. João Novo, no Porto.
José Maria, de 36 anos, natural de Cinfães, e Ubiratan Júnior, brasileiro de Vitória, com 23, apaixonaram-se em finais de 2018. Do namoro à vida em comum, num apartamento do Porto, foi um instante. E também não demoraram muito a alargar a "união de cama e mesa", como descreve a acusação do Ministério Público (MP), aos "negócios" que permitiriam ao casal levar uma vida abastada.
Diz o MP que, logo no início de 2019, e "com o objetivo de obterem proveitos económicos ilegítimos", urdiram um plano que compreendia vários empreendimentos. Todos ilegais. Terão começado por se apoderarem de cartões de crédito ou débito - com recurso a métodos que a investigação não conseguiu apurar - e desataram, a partir de diferentes telemóveis, a fazer compras de bens e serviços, desgraçando os legítimos detentores das contas, que se aperceberam tarde de mais que estavam a pagar viagens, hotéis, refeições e até "pacotes" de TV-internet a um casal que não conheciam.
Vendiam em casa e pela Net
Empreendedores, José Maria (na Net adotou o nome Esteff Mix) e Ubiratan (Júnior Santos) decidiram alargar a atividade delituosa a outros ramos, nomeadamente aos estupefacientes. Assim, abastecendo-se no Porto, mas também em Espanha, começaram a vender cocaína, liamba, anfetaminas, haxixe, LSD e outras drogas. E tinham várias "lojas": a própria casa, na rua João das Regras, no Porto; o WhatsApp; e o Grindr, uma aplicação móvel para encontros homossexuais. Nestas duas plataformas da Internet, diz o MP, o casal apresentava, semanal ou quinzenalmente, "o cardápio de produtos" disponíveis. E vendia bem.
A vida sorria ao casal, na mesma proporção que corria mal aos legítimos detentores das contas que utilizavam sem freio. Até que apareceu a PJ do Porto. Não foi fácil, mas, de queixoso em queixoso, de cartão em cartão, de telemóvel em telemóvel, os inspetores chegaram ao casal, que não demorou muito a desfazer-se.
José Maria e Ubiratan acabaram por ser detidos, em casa, no dia 21 de outubro de 2020. Em busca domiciliária, a Judiciária encontrou, no quarto do casal, muita droga (ver ficha ao lado) e uma caixa com 25 mil euros em notas. Tinham ainda escondidos envelopes com 3 270 euros. Os inspetores encontram ainda, noutro local da casa, 60 euros em notas falsas.
PORMENORES
De canábis a LSD
A PJ apreendeu aos suspeitos um saco de liamba; outro de canábis; várias saquetas de MDDA (metilenodioximetanfetamina, substância na moda nos círculos mais abastados) mais uma caixa com 135 comprimidos da mesma droga; dezenas de selos de LSD; três balanças de precisão; uma máquina de selar plástico; um pilão; e milhares de sacos de pequenas dimensões.
Agenda de serviço
Entre as provas apreendidas estão também um caderno de clientes, com nomes, datas, preferências de consumo, valores e quantidades distribuídas ou a distribuir.