Uma "arte" sem idade nem nacionalidade. Os carteiristas "veteranos" são já conhecidos pelas autoridades.
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COMO OPERAM?
Atuam em conjunto
Na área de atuação da PSP, como Lisboa e Porto, os carteiristas agem, principalmente, de forma coordenada e ocultam os seus movimentos com objetos, como jornais e revistas.
Tiram malas da cadeira
Em restaurantes, optam, segundo a GNR, por sentar-se junto às vítimas, apropriando-se das malas nas cadeiras. Noutras lojas, distraem a vítima para que o cúmplice tire a carteira.
Rodeiam a vítima
Após chocarem de forma propositada com a vítima, subtraem a carteira sem esta dar conta. Em locais com muitas pessoas, rodeiam-na para acederem à sua mala e aos seus bolsos.
Fingem doença e dor
Ao deslocar-se em cadeira de rodas, distraem a vítima e testemunhas. Noutros casos, fingem ter perdido um filho para, dessa forma, terem um pretexto para se abraçar à vítima.
QUEM SÃO?
Mulheres mais jovens
Em Lisboa e no Porto, são, segundo a PSP, maioritariamente homens (65%) e têm entre 20 e 69 anos. Já no caso das mulheres, há uma prevalência da faixa etária dos 20-29 anos.
Praticam "arte" familiar
Os carteiristas que atuam isoladamente ou com um cúmplice são, na sua maioria, portugueses e praticam uma "arte" transmitida pela família, explica a GNR. Têm entre 60 e 70 anos.
Tratados pelo nome
Os carteiristas "veteranos" são já conhecidos pelas autoridades, nomeadamente em Lisboa, que os tratam pelo seu nome e alcunha e estão a par do seu histórico familiar e da sua herança.
Grupos organizados
Têm entre 16 e 25 anos, são naturais de diversos países europeus e do Norte de África e não possuem uma residência fixa. Os bens furtados são entregues ao cabecilha do grupo.
PSP quer acabar com libertação sistemática de carteiristas
A PSP está a apostar na investigação para conseguir que os carteiristas que, nalguns casos, já deteve dezenas de vezes em Lisboa fiquem em prisão preventiva e não sejam recorrentemente libertados pelo juiz de instrução a que são apresentados.
O objetivo é, além de apresentar mais provas quando tal acontece, mostrar que atuam em grupo e de forma articulada e não de modo fortuito. A mudança de estratégia já ditou que, só em dezembro, tenha sido aplicada na capital a medida de coação mais gravosa a pelo menos três suspeitos. Só no primeiro semestre deste ano, foram furtados na Baixa de Lisboa 4,5 milhões de euros, segundo dados divulgados em setembro.
"Saem em liberdade porque é um crime sem violência. É muito difícil provar que atuam em bando", sublinha ao JN Nélson Silva, comandante da 1ª Esquadra de Investigação Criminal, em Lisboa, que, desde maio, tem uma equipa dedicada a este fenómeno.
Segundo o Código Penal, o crime de furto é punível com multa ou uma pena de prisão até três anos. Em contrapartida, o de furto qualificado - previsto quando, entre outros aspetos, o suspeito faça "da prática de furtos modo de vida" ou atue "como membro de bando destinado à prática reiterada de crimes contra o património, com a colaboração de pelo menos outro membro do bando" - é punido com até cinco ou oito anos de prisão. Só este permite, dada a sua moldura penal, a aplicação de preventiva.
Alvo apetecível
Nos primeiros 10 meses deste ano, a PSP efetuou a nível nacional, segundo dados disponibilizados ao JN pelo seu gabinete de Relações Públicas, 977 detenções - um número que inclui, além dos carteiristas, os "suspeitos de furtos em armários, cacifos, gavetas" e que representa um aumento de 89% face a igual período de 2017. O concelho de Lisboa concentra 64,3% dos crimes registados, seguindo-se os de Porto e Sintra.
No interior da Invicta e da capital, o Centro Histórico é, por sua vez, a zona mais procurada pelos carteiristas, por ali circularem mais turistas. Os visitantes são um alvo apetecível, já que, explica Nélson Silva, têm mais dinheiro na carteira e menor disponibilidade para testemunhar em tribunal.
Detenções regulares
Oficialmente, a PSP não esclarece se é comum um carteirista ser detido várias vezes, mas é essa a realidade que transparece nos comunicados que, com regularidade, o Comando Metropolitano de Lisboa daquela força emite a anunciar a captura de um ou mais suspeitos.
A 3 de dezembro, por exemplo, foram detidos, depois de, "em comunhão de esforços", subtrair de um casaco um telemóvel avaliado em 800 euros, dois homens que, a 30 de novembro, tinham surrupiado, também em conjunto, uma carteira do interior de uma mochila. Da primeira vez, ficaram sujeitos a apresentações periódicas às autoridades; da segunda, foi-lhes aplicada prisão preventiva.
Dois dias depois, a 5 de dezembro, foi decretada igualmente a medida de coação mais gravosa a uma de três mulheres detidas por se apropriarem de uma carteira com 365 euros, já a ser investigada por ter alegadamente comprado roupa e acessórios de luxo no valor de mais de 32 800 euros com cartões de créditos de carteiras furtadas. As alegadas cúmplices ficaram, por sua vez, sujeitas a apresentações periódicas. "[Esta estratégia] dá mais trabalho, mas dá resultado", remata o subcomissário.