Adulto apresenta-se na Net como jovem e leva vítima a apaixonar-se por alter ego digital, para conseguir sexo.
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Numa rede social da Internet, criou a personagem fictícia de um bonito adolescente que levou uma menor, de 13 anos, a apaixonar-se pelo ser virtual. Este fazia-se passar por impotente e levou-a a praticar sexo real com o seu criador, um homem de 43 anos, que abusou ainda de outra menor, também ela colega de escola dos filhos.
O suspeito é um homem da Trofa, que foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) do Porto, está em prisão preventiva e acaba de ser acusado pelo Ministério Público de crimes sexuais e furto.
Divorciado, pai de dois filhos que frequentavam uma escola da Trofa, o indivíduo começou a abordar a primeira vítima, então com 13 anos, na rede social Instagram. Para "Fernanda" (nome fictício), a página era de uma mulher chamada Sandra, a primeira personagem virtual criada pelo arguido, que introduziria na conversa digital um seu irmão, supostamente chamado "Eduardo Torres", de 16 anos.
"Edu" passou então a conversar com a menor, que se apaixonou por ele, sem nunca o ter visto. Conversavam na aplicação WhatsApp e, passado pouco tempo, através do alter ego "Edu", o arguido levou a vítima a enviar fotos e vídeos íntimos. Ao mesmo tempo que a seduzia, começou também a chantageá-la. Se não lhe remetia mais vídeos, "Edu" enviaria à mãe dela tudo o que já recebera. Mas isso não chegava, e "ficcionou a história de que ele, "Edu", padecia de um problema de impotência, impelindo a jovem a encontrar-se com alguém da sua confiança, com vista à prática de relações sexuais", descreve a acusação. A adolescente permitiria ainda que "Edu" assistisse a tudo, através de filmagens que o arguido faria dos encontros sexuais.
Acedeu para agradar
Na sequência do estratagema, o indivíduo começou a mandar mensagens à vítima através da sua própria conta de Instagram. Para o MP, não há dúvidas de que a menor se apaixonou pelo "hipotético Eduardo" e, por este ser impotente e não poder fazer sexo, ela acedeu aos pedidos para lhe agradar. Seguiram-se várias mensagens de "Edu" a incentivar a vítima a encontrar-se com o arguido para ter relações sexuais.
O primeiro encontro aconteceu em junho do ano passado, em casa do indivíduo, onde a menor foi abusada. Sucederam-se vários episódios em que o arguido até filmava os atos para que supostamente "Edu" pudesse assistir.
Outras vítimas
O amigo virtual também levou "Fernanda" a tirar fotografias íntimas de uma colega de escola, sua amiga. Foram tiradas à revelia desta segunda vítima, numa casa de banho, quando fazia higiene pessoal.
Uma terceira menor começou a ser molestada quando tinha 15 anos. O arguido conheceu-a por ser amiga de um filho. Esta "remeteu fotografias e vídeos de cariz sexual, através da Internet, a pessoa que desconhece e que a determinado momento começou a ameaçá-la de que iria difundir aqueles conteúdos. Perante isto, o arguido comprometeu-se a ajudá-la, o que de facto sucedeu", explica a acusação, sem apontar o homem como autor do aliciamento da menor.
Mas, assim, a adolescente passou a confiar no indivíduo ao ponto de se apaixonar e iniciar com ele uma "relação amorosa", que se manteve durante três anos. Também a esta, o homem pedia vídeos íntimos.
Centenas de ficheiros com pornografia de menores, das vítimas e não só, foram apreendidos no telemóvel do arguido.
Furto
Ouro roubado e abençoado em Fátima
Segundo o MP, o arguido levou a terceira vítima, de 15 anos, a furtar cerca de três mil euros em ouro à sua avó. O arguido terá convencido a menor de que os anéis e pulseiras tinham de ser benzidos em Fátima para a relação ser, também, benzida. O arguido vendeu-as numa loja e fez, pelo menos, 2900 euros.
Pormenores
Crimes
O arguido é acusado de abuso sexual de crianças, ato sexual com adolescentes e pornografia de menores agravado, todos em trato sucessivo. Responde ainda por furto qualificado.
Estrela nas redes
O indivíduo usava fotografias de uma estrela das redes sociais dos EUA, Andrew Dávila.
Pasta escondida
Nas buscas domiciliárias foram apreendidas centenas de fotos. Estavam guardadas numa pasta do telemóvel escondida e chamada SecureZone, que tinha subpastas com vídeos das vítimas, mas também de outros adolescentes, de ambos os géneros.