Cérebro do furto do material de guerra do Exército foi de propósito a Espanha comprar ferramenta infalível na destruição de fechaduras de paióis.
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João Paulino, tido como mentor do assalto a Tancos, foi a Espanha comprar uma ferramenta especial que lhe permitiu abrir as portas dos paióis do Exército em 15 segundos, em junho de 2017. O nono detido na operação Húbris II pela Polícia Judiciária vai aguardar julgamento em prisão preventiva. Trata-se de um ex-furriel que trabalhou em Tancos antes de abandonar a vida militar. Entrou recentemente para a GNR, mas deverá agora ser excluído.
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De acordo com informações recolhidas pelo JN, o mentor do assalto planeou todos os detalhes com base na informação pormenorizada fornecida pelo então furriel sobre a segurança do quartel. Reunida a equipa de oito indivíduos, entretanto detidos, para o golpe, só lhe faltava garantir a abertura das fechaduras dos paióis. Para isso, foi contactado um indivíduo famoso pelas suas capacidades de abrir qualquer porta.
Paulo Lemos, conhecido como "Fechaduras", também arguido, não terá participado no assalto, mas terá fornecido indicações precisas para a destruição dos canhões das fechaduras dos paióis. Lemos, que é natural do Porto mas reside no Algarve há muitos anos, mostrou a Paulino a ferramenta que tinha de usar para conseguir neutralizar os canhões, em menos de 15 segundos.
De acordo com a investigação da Polícia Judiciária, João Paulino deslocou-se então a Espanha para comprar esta ferramenta especial que haveria de usar três meses depois, com sucesso, no assalto a Tancos.
Eta como destino final
Para o Ministério Público, a venda do armamento de guerra, que incluía granadas, explosivos e munições, estava a ser negociada com a organização terrorista basca ETA e seria António Laranginha, um amigo e cúmplice de Paulino, também implicado no furto das pistolas Glock da PSP, a intermediar o negócio.
Antes do assalto, este indivíduo já teria contactado com os nacionalistas bascos que, à data do furto, ainda não tinham desmantelado totalmente a organização. O fim da ETA só foi anunciada em maio deste ano.
O primeiro-ministro, António Costa, quando, à margem de uma visita a um centro de acolhimento, foi confrontado com as suspeitas do Ministério Público, negou que o caso tivesse qualquer ligação ao terrorismo internacional.
GNR em prisão preventiva
A tese do tráfico de armas para terrorismo internacional é sustentada no depoimento de um dos arguidos, que não está detido. Oito dos 18 suspeitos neste processo estão em prisão preventiva, entre eles o ex-diretor da Polícia Judiciária Militar, outros três elementos desta polícia e ainda três militares da GNR de Loulé, estes pela encenação da recuperação das armas.
O último indivíduo a quem foi aplicada a medida de coação mais gravosa foi o ex-furriel Filipe Sousa que, à data do assalto, estava ao serviço em Tancos, onde chegou a comandar a guarda dos paióis. Nos últimos meses frequentou a escola da GNR, onde completou o curso com sucesso, há poucos dias, e fez o compromisso de honra.