Mais de 100 Renault vendidos em stand em Vila do Conde como tendo baterias próprias que, afinal, seriam alugadas.
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A Polícia Judiciária (PJ) deteve, na quarta-feira, o dono da E-Drive Option (Dinastia Motriz, Lda.), Alberto Ramalho, de 62 anos, pela suspeita de burla qualificada. O caso foi denunciado pelo JN em janeiro: mais de uma centena de carros Renault Zoe (elétricos) foram vendidos como tendo baterias próprias, que, afinal, eram alugadas. Com o negócio, o stand de Vilar, Vila do Conde, terá lucrado mais de 700 mil euros. Agora, os lesados sentem que começa "a ser feita justiça", mas lamentam "anos de espera".
"Já lá vão mais de dois anos. Só espero que ele tenha aquilo que merece. Para mim, isto já é uma vitória", afirmou, ao JN, João Almeida, o criador de um grupo no Whatsapp que junta mais de 50 lesados. Em 2021, João foi dos primeiros bloqueados. Perdeu cinco mil euros. Apresentou queixa, foi ouvido na GNR. Agora, "finalmente", vê o caso a andar.
"As buscas visaram estabelecimentos de venda de automóveis, todos do mesmo proprietário [a E-Drive e a Cars2you], que comercializavam automóveis elétricos equipados com baterias alugadas, mas eram vendidos sem que os adquirentes tivessem sido informados de que as referidas baterias não integravam as viaturas", afirma, em comunicado, a PJ, que deu, assim, cumprimento a uma mandado de detenção e vários mandados de buscas domiciliárias e não domiciliárias.
"Cada adquirente de viaturas - particulares, empresas e até duas câmaras municipais - foi surpreendido com a exigência de pagamentos de valores entre seis e oito mil euros, situações que ocorreram entre 2021 e a presente data", diz ainda a PJ, que não tem ainda fechado o número total de lesados. Nas buscas foram apreendidas oito viaturas e documentação contratual e financeira, bem como ficheiros informáticos.
Denúncia do JN
O alegado esquema foi denunciado pelo JN a 17 de janeiro. A E-Drive vendia carros importados como "viatura sem aluguer de bateria" e sem reserva no registo de propriedade. Depois, os donos eram surpreendidos com o bloqueio remoto das baterias "por falta de pagamento". A financeira do grupo Renault, a Mobilize Financial Services (ex-RCI), alegou que todos têm contratos de aluguer feitos no estrangeiro e exige aos lesados que paguem entre 69 e 119 euros por mês durante dez anos) ou adquiram a bateria (sete mil euros).
Na altura, António Ramalho garantiu que era a ex-RCI que estava "a violar a lei" ao bloquear as viaturas sem autorização do proprietário e que os "contratos de aluguer cessam com a exportação". Com o caso a pôr em causa o nome da própria Renault e a multiplicar processos judiciais, a Mobilize acabou por avançar com uma queixa-crime contra o dono da E-Drive.
Compra
Bom negócio virou dor de cabeça
Baterias próprias e preço mais baixo foi o que levou os lesados a optar pela E-Drive. A diferença de preço para outros stands andava entre os dois e os três mil euros. Mas, somados os sete mil euros da bateria, deixou de ser bom negócio e ao prejuízo (da compra da bateria) somaram-se meses sem carro que, com as baterias bloqueadas, não carregava e deixava de andar. Após a denúncia do JN, os bloqueios - a maneira mais fácil de a Mobilize chegar ao novo dono - pararam. A Mobilize admitia existirem "largas dezenas de casos". Lesados avançaram para tribunal, uns contra a Mobilize, outros contra a E-Drive. Em fevereiro, o Tribunal de Lisboa condenou a Renault e a ex-RCI a desbloquear as baterias, considerando o ato "ilícito". A Mobilize avançou com uma queixa contra o dono da E-Drive.