O advogado de Francisco J. Marques, diretor de comunicação do F. C. Porto, considerou esta quarta-feira que, ao contrário do que alegou o Benfica, a divulgação de e-mails dos encarnados no Porto Canal em detrimento da sua entrega imediata às autoridades não prejudicou a investigação criminal ao alegado polvo das águias no mundo do futebol, denunciado há cerca de cinco anos naquela estação televisiva.
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"É comovente o interesse do Benfica no sucesso da investigação contra si", ironizou, na reta final do julgamento, Nuno Brandão, acrescentando que o mais provável é que, no momento em que as autoridades quisessem recorrer a essa correspondência, as águias dissessem "que não podia" ser usada.
"O que os assistentes queriam é que aqueles e-mails fossem enterrados", atirou o mandatário.
Na resposta, um dos mandatários do Benfica, Rui Patrício, replicou que, quanto "mais e melhor" o caso for investigado, "mais rapidamente desaparece o lodaçal de suspeitas públicas" que pairam sobre o clube "há 10 anos".
A 3 de janeiro deste ano, 2023, a SAD do Benfica e o seu Conselho de Administração no mandato de 2016-2020 foram constituídos arguidos num processo, segundo foi recentemente noticiado, de corrupção desportiva.
O ato foi, na terça-feira, desvalorizado por Rui Patrício por não terem sido identificados pelo Ministério Público os atos sob suspeita, mas tem sido usada, nas alegações finais, pelos defensores dos arguidos para reforçar o "interesse público" das mensagens divulgadas por Francisco J. Marques no programa "Universo Porto - da Bancada", no qual era comentador.
O diretor de comunicação do F. C. Porto está acusado dos crimes de violação de correspondência ou telecomunicações, acesso indevido e ofensa a pessoa coletiva, tal como Diogo Faria, atual diretor de conteúdos do Porto Canal e à data responsável assumido pela seleção dos e-mails tornados públicos.
Júlio Magalhães, então diretor-geral da estação e hoje jornalista noutro canal, é suspeito de não ter travado a transmissão do programa e responde por violação de correspondência e telecomunicações e ofensa a pessoa coletiva.
Benfica sem "legitimidade"
Esta terça-feira, Nuno Brandão defendeu ainda que o Benfica não tinha "legitimidade" para apresentar queixa contra os arguidos e, assim, obrigar o Ministério Público a abrir um procedimento criminal contra estes.
"A pessoa individual que é titular do bem jurídico [o interesse protegido pela lei] e, por isso, é ela que tem legitimidade para proceder com a queixa", sustentou o advogado, refutando a alegação feita na terça-feira por outro mandatário do Benfica, João Medeiros, de que foi a privacidade da "estrutura organizacional" dos encarnados que foi "violada" e não a dos seus "colaboradores", cujos caixas de correio eletrónico foram acedidas remotamente por um desconhecido dos arguidos.
"A privacidade organizacional é uma coisa que não existe. [...] Não aconselharam bem o Benfica, temos pena. Não podem ser os arguidos a arcar com as consequências de acrobacias para salvar o indefensável", afirmou, esta quarta-feira, Nuno Brandão.
O causídico pediu, por isso, a absolvição de Francisco J. Marques. O advogado de Júlio Magalhães, André Domingues, pediu igualmente, esta quarta-feira, a ilibação do seu cliente, realçando que não ficou demonstrado que o então diretor-geral do Porto Canal "tinha capacidade", apesar da sua função, para acabar com o programa "Universo Porto - da Bancada".
Na terça-feira, o mandatário de Diogo Faria pedira também a absolvição do seu constituinte. Já o Benfica pugnara pela condenação dos três arguidos por todos os factos de que estão acusados, divergindo do Ministério Público, que pediu apenas expressamente a condenação de Francisco J. Marques por uma parte dos crimes.
A leitura do acórdão está agendada para 27 de março, às 14 horas.