O diretor de comunicação do F. C. Porto, Francisco J. Marques, insistiu esta quarta-feira, em tribunal, que os e-mails retirados do sistema informático do Benfica que, entre junho de 2017 e fevereiro de 2018, divulgou no Porto Canal tinham "interesse público".
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"Estava em causa um sem número de práticas que não são razoáveis e não são aceitáveis", afirmou o arguido, de 56 anos, ao depor no julgamento em que responde por seis crimes de violação de correspondência ou de telecomunicações, um de acesso indevido e um de ofensa a pessoa coletiva. A denúncia referia-se à existência de um alegado "polvo" do Benfica no mundo do futebol.
"Não entendo como é que se pode questionar o interesse público destas divulgações", desabafou, reiterando que o trabalho feito foi de caráter "jornalístico". Confrontado com o facto de quase nunca ter dado oportunidade aos visados de exercer o contraditório, o diretor de comunicação defendeu que, tratando-se de documentos, não "era necessário fazê-lo".
Perante a insistência do presidente do trio de juízes, que o lembrou como seria se a Justiça funcionasse assim em relação às acusações do Ministério Público, Francisco J. Marques retorquiu que o programa onde foram divulgados os e-mails do Benfica "não é um tribunal".
O diretor de comunicação do F. C. Porto desvalorizou ainda o facto de a informação ter tido origem em correspondência eletrónica privada. E lembrou que a "generalidade dos leaks" que têm ocorrido - "como os Panamá Papers ou os WikiLeaks" - "não existiriam" sem a subtração de dados privados. "Hoje em dia, não vejo que tenhamos decidido mal", disse.
Identidade da fonte desconhecida
No caso dos e-mails do Benfica, as caixas de correio eletrónico terão sido extraídas por terceiros. Terão sido estes a contactar por e-mail Francisco J. Marques, sem revelar a sua identidade, a 4 de abril de 2017. Dias depois, terão remetido as caixas de correio eletrónico de três pessoas. No total, terá recebido 20 gigabytes de dados.
Já após terem começado, em junho de 2017, as divulgações no programa Universo Porto de Bancada, o diretor de comunicação do F. C. Porto foi contactado pela Polícia Judiciária (PJ) para entregar a informação em bruto, o que fez voluntariamente.
Questionado esta quarta-feira pelo tribunal sobre o porquê de não o ter feito logo em abril, por sua iniciativa, Francisco J. Marques respondeu que chegou a ponderar entregar nessa altura os ficheiros às autoridades, mas acabou por decidir que não o faria.
"Refleti e achei que se entregasse [a informação] per si não ia acontecer absolutamente nada", justificou o arguido. A opção passou então por tornar público o alegado controlo ilegítimo pelo Benfica do mundo do futebol, para que os adeptos soubessem que "o jogo não é limpo".
O depoimento continua durante a tarde, no Tribunal Central Criminal de Lisboa.
Além de Francisco J. Marques, estão ainda acusados no mesmo processo Diogo Faria, de 32 anos, atual diretor de conteúdos do Porto Canal e então autor da seleção dos e-mails do Benfica tornados públicos, e Júlio Magalhães, de 59 anos e à data diretor-geral da estação, na qual deixou entretanto de trabalhar. Negam ambos, tal como o responsável do F. C. Porto, a prática de qualquer crime.