Dono da "Maria" e "Nova Gente" transferiu receitas das revistas para filial espanhola para fugir às dívidas.
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É um dos trunfos da investigação que espelha as operações de maquilhagem contabilísticas destinadas a evitar pagar as dívidas aos credores. Jacques Rodrigues, um dos quatro detidos pela Polícia Judiciária (PJ) por insolvência dolosa, burla, falsificação de documentos e corrupção, é suspeito de ter criado uma empresa que faturou 120 milhões de euros em apenas três anos, sem ter um único funcionário.
Ontem os quatro suspeitos foram ouvidos em primeiro interrogatório judicial no Tribunal de Sintra que deve divulgar as medidas de coação na segunda-feira. Até lá, os arguidos ficam detidos.
As autoridades acreditam que o patrão do Grupo Impala arquitetou um esquema de transferência de faturação para que a empresa produtora e vendedora das revistas "Maria", "Nova Gente" e "TV 7 Dias" ficasse apenas com "migalhas". O plano de descapitalização, idealizado em 2008, era simples. A "Descobrirpress", que estava a braços com uma dívida de 21 milhões de euros e na iminência de ser executada, mantinha a seu cargo todos os custos de produção e encargos com o pessoal, enquanto a recém-criada "EuroImpala SL" ficava com os lucros. De acordo com informações recolhidas pelo JN, entre 2008 e 2011 esta firma com sede em Espanha faturou os cerca de 120 milhões de euros, apesar de não ter contratado qualquer colaborador.
prestadora de serviços
Na prática, a "Descobrirpress" passou a ser uma prestadora de serviços que, mediante uma pequena parte das receitas, se limitava a produzir as revistas e conteúdos dos sites para uma empresa sem funcionários.
Em 2008, ano em que foi criada a "EuroImpala SL", Jacques Rodrigues foi confrontado com um acórdão do Supremo Tribunal de Justiça que obrigava a "Descobrirpress" a pagar 21 milhões à massa falida da "Electroliber". Essa foi a empresa que, durante anos, distribuiu todos os títulos detidos pelo Grupo e a quem as firmas de Jacques Rodrigues ficaram a dever milhões. Foi por estar na iminência de ser executado que o patrão da Impala terá decidido começar a dissipar património.
"Em causa está uma investigação criminal cujo objeto visa um plano criminoso traçado para, entre o mais, ocultar a dissipação de património, através da adulteração de elementos contabilísticos de diversas empresas, em claro prejuízo de diversos credores, os trabalhadores, fornecedores e o Estado, estando reconhecidos créditos num valor total de cerca de 100 milhões de euros", explicou a PJ, que também detetou outras engenharias financeiras.
De acordo com a investigação da Unidade Nacional de Combate à Corrupção, Jacques Rodrigues também montou uma operação contabilística para comprar a própria dívida.
Credor dele próprio
Através de uma empresa terceira, com a qual mantinha negócios, adquiriu por 600 mil euros cerca de 20 milhões de dívida que a "Descobrirpress" tinha para com a massa insolvente da "Electroliber". Assim, por se ter tornado, indiretamente, o maior credor dele próprio, Jacques Rodrigues terá conseguido controlar os termos dos três Planos Especiais de Recuperação (PER) que apresentou aos tribunais nos últimos anos.