Ex-ministro deu "instruções" à mulher para movimentar offshore enquanto esteve no Governo
A mulher de Manuel Pinho, também arguida no caso em que o ex-ministro está acusado de ter sido corrompido pelo antigo banqueiro Ricardo Salgado, garantiu esta segunda-feira, em tribunal, que foi a pedido do marido que, enquanto este esteve no Governo de 2005 a 2009, fez levantamentos de uma offshore sob suspeita.
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Alexandra Pinho, de 63 anos, responde por branqueamento e fraude fiscal por ter, alegadamente, ajudado o antigo governante a ocultar e a "lavar" cerca de cinco milhões de euros em supostas "luvas" pagas pelo, à data, presidente do Banco Espírito Santo (BES). O dinheiro destinar-se-ia a compensar benefícios ilegítimos por parte de Manuel Pinho ao BES e ao Grupo Espírito Santo (GES) e terá sido canalizado, parcialmente, para um offshore do então governante, denominada Tartaruga Foundation.
Esta segunda-feira, Alexandra Pinho corroborou que a fundação foi criada por Manuel Pinho, assegurando que, pessoalmente, só teve "poder" para movimentar a conta do marido, "a favor" deste, "no período em que ele esteve no Governo".
"Era a única relação que tinha com essa conta. Era o poder movimentar, por ser necessário ao meu marido que eu fizesse os movimentos. Ele é que dava as instruções, que eu transmitia telefonicamente [ao gestor da conta]", afirmou a arguida. Questionada sobre o porquê de, nesse período, Manuel Pinho ter optado por não movimentar diretamente a conta, Alexandra Pinho retorquiu que" preferia" que fosse o marido a responder.
Já durante a sessão da tarde, Manuel Pinho justificou os pedidos com a falta de tempo decorrente das funções executivas que então exercia. "Não precisava de dormir. Dormia uma hora e meia, acordava bem-disposto, mas não tinha cabeça para tudo. Depois deixei de ser ministro e tinha muito pouco para fazer", explicou, em resposta ao Ministério Público.
Na semana passada, o antigo ministro tinha já assegurado no julgamento que a criação da Tartaruga Foundation, imediatamente antes de assumir a passada de Economia no Governo, ocorreu para ocultar o seu património e não para esconder as alegadas "luvas", que garantiu então terem sido "prémios", por ter sido anteriormente um alto quadro do BES.
Entre os presumíveis subornos elencados na acusação, está igualmente o salário pago, entre 2004 e 2014, a Alexandra Pinho por ter sido curadora da coleção BES Art Photo. Esta segunda-feira, a arguida destacou o seu currículo e frisou que a colaboração, por sete mil euros mensais a recibos verdes, começou antes de Manuel Pinho ter ido para o Governo.
Já em 2018, com a investigação a decorrer há seis anos, a arguida queixou-se, ainda assim, da questão dos offshores ter sido discutida publicamente, dada a conotação negativa da palavra. "Para quem é financeiro como eu tem um significado completamente diferente para o comum dos mortais", justificou.
Manuel Pinho, de 68 anos, responde por corrupção passiva, branqueamento e fraude fiscal, enquanto Ricardo Salgado, de 79 anos e aguardar o resultado de uma perícia independente ao diagnóstico de Alzheimer, está acusado de corrupção ativa e branqueamento. Os arguidos negam a generalidade dos crimes.