Marroquino fez-se passar por sírio durante cinco anos. Obteve subsídio e documentos. Constava da lista vermelha da Interpol.
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Um cidadão marroquino, atualmente a ser julgado por ter violado uma sem-abrigo nas antigas instalações da RTP, em Lisboa, e que, durante cinco anos, se fez passar junto das autoridades portuguesas por refugiado sírio, está envolvido num caso de terrorismo na Alemanha. É suspeito de ter recrutado extremistas para redes de terrorismo islâmico.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, Makhlouli Z. , 34 anos, chegou a Portugal em janeiro de 2015, ano em que requereu asilo. Antes de entrar em território nacional, esteve na Alemanha, onde terá mantido contactos com redes terroristas, mas também passou por outros países europeus, onde chegou a ter problemas com a justiça relacionados com pequenos furtos.
Após seis meses em Portugal, nos quais esteve sempre fora do radar das autoridades, Makhlouli Z. foi ao Gabinete de Asilo e Refugiados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), em Lisboa. Apresentou-se como Mussa Ikli, nascido em agosto de 1990, na Síria. Usando essa falsa identidade, sem documentos oficiais que a atestassem, solicitou asilo e proteção internacional, que lhe foram concedidos.
Apoio económico
Makhlouli obteve dessa forma uma autorização provisória para permanência em território nacional, além de um comprovativo do pedido de proteção internacional, tendo recebido apoio económico, decorrente do pedido de asilo.
Durante cinco anos, o marroquino manteve-se em Portugal. Não se sabe o que andou a fazer, mas nessa altura já estava a ser investigado pelas autoridades alemãs por terrorismo. Tinham-lhe perdido o rasto, até porque Makhlouli Z., nascido na cidade marroquina de Casablanca, era agora Mussa Ikli, refugiado sírio, com documentos carimbados pelo Estado português e sucessivamente renovados.
E foi com essa nova identidade que o marroquino passou a ser procurado em Portugal, por suspeita de ter violado uma sem-abrigo, em abril de 2020. De acordo com a acusação do Ministério Público, a vítima deambulava à noite em Lisboa, pedindo comida a quem passava, quando o falso refugiado se ofereceu para a ajudar. Levou-a para as antigas instalações da RTP, na Alameda das Linhas de Torres, onde o próprio pernoitava. Lá, deu-lhe comida, mas acabou por mandá-la despir-se e deitar-se no chão. Quando a vítima recusou, sacou uma faca e encostou-lha ao pescoço. Fugiu após a violação.
A investigação da Polícia Judiciária (PJ) de Lisboa acabaria por identificá-lo, embora com o nome falso. Foi localizado em dezembro e, tanto à PJ como ao juiz de instrução criminal, apresentou-se com a identidade síria falsa. Porém, as verificações de identidade desmascararam-no, revelando os alertas da Interpol que o apontavam como angariador de potenciais terroristas para uma rede de extremistas islâmicos na Alemanha. Ficou em prisão preventiva pelos crimes de violação, falsificação de documentos e falsas declarações.