A esposa de Pedro Ferreira, filho do eletricista Fernando Ferreira ("Conde"), desaparecido na noite de 8 de janeiro de 2020 e encontrado morto no rio Ave, no dia 22 do mesmo mês, afirma que ainda hoje vive com medo. Natália testemunhou esta segunda-feira no julgamento dos dois acusados do homicídio do seu sogro - António Silva, conhecido como "Toni do Penha", e Hermano Salgado - e revelou que foi alvo de ameaças.
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"Quem me roubou vive entre Guimarães e as Taipas e anda de Jaguar", lê-se na impressão de uma publicação de Facebook que integra o processo. "Eu moro em Ponte [uma vila entre as Taipas e Guimarães] e ando num Jaguar, não há assim tantas pessoas a andar neste tipo de carro", afirmou a nora de Fernando Ferreira em tribunal. A publicação teria sido feita por "Toni", como forma de pressionar a família do falecido a divulgar o paradeiro do dinheiro que este acredita que o eletricista furtou da sua residência.
Esta não terá sido a única forma de pressão usada por "Toni" para levar a família de "Conde" a entregar-lhe a quantia que terá desaparecido da sua residência. O outro acusado do homicídio, Hermano Salgado ("Mano"), de acordo com a nora de "Conde", em junho de 2020, veio ter consigo para a avisar que andavam três indivíduos do Bairro do Cerco, no Porto, à procura dela e do marido. E ter-lhe-ia dito que estes três homens lhe tinham mostrado fotografias dela e do marido e que tinham afirmado: "é para limpar". Este trio viria por causa dos 135 mil euros que "Toni" diz terem desaparecido de sua casa e, alegadamente, a seu mando.
Em março de 2021, "Toni" telefonou a Natália e marcou um encontro. A essa reunião foram a nora e o filho de "Conde" e uma amiga do casal (procuradora da República). Neste momento, de acordo com testemunhos de Natália e da amiga do casal, "Toni" voltou a pedir o dinheiro. "Não quero fazer nada sem avisar primeiro. Quem rouba merece morrer", terá dito. Este tipo de frases e o tom foi interpretado como uma ameaça. Esta conversa, que teve lugar numa bomba de gasolina, nas Taipas, foi gravada pela Polícia Judiciária (PJ).
"Toni" insiste no dinheiro
Nesta troca de palavras, o antigo empresário da noite mostrou-se pouco interessado em esclarecer o que teria acontecido a Fernando Ferreira e insistiu sempre em saber do seu dinheiro. Lançou inclusivamente acusações à empregada doméstica que prestava serviço em sua casa, ao irmão desta e ao segurança Ricardo Guedes, dando a entender que teriam operado em conluio. "Toni" teria até acusado o eletricista de ter um caso amoroso com a empregada.
Fátima deixou de trabalhar para "Toni" 15 dias depois de este se queixar do desaparecimento do dinheiro. "Fiquei muito sentida por ele andar a dizer que eu o tinha roubado", afirmou em tribunal, adiantando ter sido essa a razão de ter abandonado o serviço sem conversar com o patrão, tendo devolvido a chave por via postal. A empregada disse também que sabia que, na noite do furto, "Toni" iria estar fora até tarde num jantar. "Ele pediu-me para eu ir lá fazer uma ronda. Mas eu não fui, porque não tem jeito uma mulher sozinha, de noite. Além disso, no dia seguinte tinha de ir trabalhar às 6 horas", testemunhou.
Ricardo Guedes, o segurança que terá dirigido as suspeitas para "Toni", ao avisar os filhos ou a PJ (conforme as versões) de que o antigo empresário da noite lhe tinha pedido "para dar um aperto" ao pai, também foi ouvido ontem. A testemunha apresentou-se com um atestado médico que lhe permitia interromper a sessão a qualquer momento, por se encontrar num estado de grande debilidade física. Guedes (como é conhecido) negou em tribunal a versão dos filhos de "Conde" e afirma que só contou à PJ sobre a tentativa que "Toni" terá feito para o contratar.