Embora só esta quarta-feira tenha avançado com buscas às SAD's dos clubes, já há vários anos que os negócios que envolvem as transferências de jogadores de futebol estavam na mira da Inspeção Tributária e Aduaneira (ITA). Estão ser alvo de investigação contratos assinados desde 2015.
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O Fisco já há vários anos tinha em curso uma investigação a negócios de mais de uma dúzia de sociedades anónimas desportivas (e respetivos clubes), muitas delas com ligações ao empresário Jorge Mendes, proprietário da Gestifute. Contratos assinados desde 2015 estão a ser escrutinados a pente fino para detetar qualquer possibilidade de fuga aos impostos.
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Em julho de 2017, uma fonte da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) avançou ao JN que "tudo o que tem a ver com Jorge Mendes é suspeito", sublinhando a intenção de passar a pente fino todos os principais negócios que possam ter tido o dedo do agente FIFA, ao nível de transferências de futebolistas, equipas técnicas e de gestão das respetivas fortunas.
Esta investigação surgiu na sequência de uma parceria da AT com a Agência Tributária de Espanha, que acusou vários clientes do empresário - como José Mourinho, Cristiano Ronaldo, Fábio Coentrão, Di Maria, Ricardo Carvalho e Falcao - de cometerem crimes fiscais, com base em revelações feitas no Football Leaks, isto é, com informação fornecida por Rui Pinto. Na altura, a Gestifute confirmou a inspeção, assegurou que os procedimentos eram transparentes e que estaria a prestar toda a colaboração.
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Segundo avançou o jornal "El Confidencial" nessa ocasião, Falcao justificou-se perante a justiça apontando Jorge Mendes como cérebro de um esquema que passava pela criação de sociedades offshore para desviar do Fisco receitas de direitos de imagem. E o próprio empresário, que refutou as acusações, também terá sido investigado em Espanha.
O Fisco acredita que o esquema para os direitos de imagem poderá ter sido usado com um número reduzido de futebolistas que têm aparecido em campanhas publicitárias, mas há outros sob investigação. É o caso de alegados esquemas com prémios de assinatura ou com duplos contratos que não são registados na Federação nem na Liga e envolvem pagamentos por baixo da mesa.
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Em abril de 2019, o JN noticiou que a AT tinha tentado colaborar com Rui Pinto, quando este ainda estava em prisão domiciliária em Budapeste, na Hungria, a fim de saber se teria informações sobre sociedades com sedes em paraísos fiscais ou sobre transferências bancárias em nome de testas de ferro que pudessem ser úteis para uma investigação ao mundo do futebol. Novamente, um dos alvos era Jorge Mendes.
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Já este ano, a 6 de fevereiro, a revista "Sábado" avançou que Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira e António Salvador, presidentes do F. C. Porto, Benfica e do Braga, respetivamente, bem como o empresário Jorge Mendes, eram suspeito de fraude e lavagem de dinheiro e que já estariam a ser alvo de inquéritos abertos pelo Ministério Público e pelo Fisco.
Embora apenas o dirigente dos dragões tenha sido capa da revista, nas páginas interiores, sob o título "Todos suspeitos de fraude fiscal e lavagem de dinheiro", foram apontados os outros investigados, que para além dos líderes das águias e guerreiros, incluíam Sporting, Estoril, Vitória de Guimarães, Marítimo e Portimonense.
Mas não foram só os clubes os alvos da AT. Também vários empresários estariam envolvidos no esquema de fuga ao Fisco e, mais uma vez, surgia na lista o nome de Jorge Mendes.
No caso do F. C. Porto o processo estará já numa fase mais avançada, pelo que foram revelados mais pormenores pela revista, como o facto de os inquéritos visarem "negócios milionários com as transferências de jogadores como Falcao, Mangala e Danilo", avançado que estavam "em causa 20 milhões". O presidente dos azuis e brancos reagiu à notícia, defendendo tratar-se de "uma patranha" e que iria "exigir em sede própria responsabilidades aos artífices" da reportagem.
"Nunca a F. C. Porto SAD e/ou o presidente do seu Conselho de Administração foram interpelados, ouvidos ou interrogados em qualquer tipo de inquérito ou diligência judicial similar sobre qualquer uma destas matérias. Se estes inquéritos existirem, o que só se admite por mera hipótese de raciocínio, estariam em segredo de justiça e numa fase embrionária, pelo que se estranha esta fuga de informação cirúrgica em vésperas de um F. C. Porto-Benfica decisivo para o campeonato", disse Pinto da Costa, em comunicado.
A revista "Sábado" revelava também que o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) "abriu inquéritos-crime contra seis clubes de futebol pelo facto de terem usado contratos com agentes, alegadamente simulados, para poderem poupar no IRS e na Segurança Social dos futebolistas" e que no F. C. Porto, Benfica e Sporting estariam a ser investigados os casos de nove jogadores.
Segundo a publicação semanal, a investigação em curso surgiu na sequência da junção de oito inquéritos iniciados em 2017-2018. Em causa estariam os negócios envolvendo as transferências de jogadores como Jackson Martínez, Radamel Falcao, Iker Casillas, Imbula, James Rodríguez, Mangala e o português Danilo Pereira. O Fisco terá sido lesado em cerca de 20 milhões de euros.
O Braga também reagiu em comunicado à notícia publicada a 6 de fevereiro, assegurando desconhecer "qualquer investigação em curso" e não ter sido contactado pelas "autoridades no sentido de prestar qualquer informação adicional àquela que é de acesso público e que está devidamente verificada e validada pelos auditores e pelos reguladores, bem como pelas regulares fiscalizações da Autoridade Tributária".
A missiva acrescentava, ainda, que a SAD e os responsáveis estavam "seguros da lisura dos atos de gestão praticados" e que "estarão sempre disponíveis para ceder toda a documentação e informação necessária".
Já o Benfica manteve-se em silêncio e não reagiu.