Guarda marcou casamento com rapariga, mas no dia não apareceu. Tribunal aplicou pena de dois anos e quatro meses, suspensa.
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Um militar da GNR, colocado num posto de Vila Nova de Gaia, foi condenado por violência doméstica por, ao longo de três anos, ter insultado, vigiado e maltratado a jovem com quem manteve um relacionamento amoroso. Apesar de casado e com filhos, o guarda chegou a marcar casamento com a rapariga - 18 anos mais nova e que desconhecia que o militar já tinha uma família - mas não compareceu à cerimónia marcada na conservatória. E também não cumpriu as ordens do juiz para se manter afastado da vítima, continuando a humilhá-la e a ameaçá-la de morte.
Em 2011, o guarda tinha 35 anos e quatro filhos de outros tantos relacionamentos. Também era casado, mas nada disso impediu que iniciasse um namoro com uma rapariga, então com 17 anos. Apesar da vida dupla, tudo correu sem sobressaltos nos primeiros três anos, ao longo dos quais o guarda conquistou a confiança da família da jovem, radicada no concelho de Paredes. Porém, quando esta entrou na universidade, o indivíduo começou a revelar "um comportamento possessivo e controlador".
No julgamento, recentemente concluído, ficou provado que o elemento da GNR passou a perguntar constantemente, através de telefonemas e mensagens, onde é que a rapariga estava e a aparecer, de surpresa, nos locais que esta frequentava, sobretudo a universidade, para ver com quem se dava. Proibiu-a ainda de sair com os amigos e colegas universitários e, alegando que estava a ser traído, insultava-a frequentemente.
Falta a casamento
Quando, em setembro de 2016, a vítima já dava sinais de querer terminar com o namoro, o guarda avançou com um pedido de casamento, "com vista a mantê-la sob domínio". Todavia, no dia da cerimónia, marcada para julho de 2017, numa conservatória, não foi buscar a noiva e a sua família. Depois desse episódio, a universitária terminou com a relação, também porque ficou a saber que o namorado já era casado.
Essa decisão nunca foi aceite pelo militar que, desde então, pressionou a jovem a reatar o namoro. Todos os dias enviava mensagens por telefone ou redes sociais e, perante a intransigência da vítima, começou a ficar violento. "Antes de desaparecer, mato-vos a todos" e "se não és minha, não és de mais ninguém" foram algumas das ameaças feitas pelo homem que prometia revelar vídeos íntimos da jovem.
O guarda acabou detido, pelos colegas do Núcleo de Investigação e Apoio a Vítimas Específicas de Penafiel, em agosto de 2017 e, embora proibido de contactar a ex-namorada, continuou com as ameaças. Foi, por isso, condenado a dois anos e quatro meses de prisão, pena que fica suspensa por igual período.
BALANÇO
Violência doméstica já matou 20 pessoas só este ano e 16 são mulheres
A violência doméstica já matou 20 pessoas este ano, 16 das quais mulheres. Os números foram divulgados pelo Governo e revelam que nove das mortes por homicídio (oito mulheres e um homem) ocorreram no terceiro trimestre de 2020. O documento publicado pelo gabinete da ministra da Presidência mostra, ainda, que as participações de crimes de violência doméstica cresceram entre julho e setembro. Neste período, foram participadas 8228 ocorrências à PSP e GNR, mais 1,12% do que as 8137 efetuadas no período homólogo de 2019 e mais do que as 6928 registadas no segundo trimestre de 2020. Também o número de pessoas presas por crimes de violência doméstica aumentou. Havia, no terceiro trimestre, 1095 reclusos, mais do que os 1064 do segundo trimestre e do que os 973 do terceiro trimestre de 2019.
PORMENORES
Apoio psicológico
O militar era acompanhado pelos serviços de Psiquiatria e Psicologia da GNR desde 2012, devido a uma "perturbação depressiva". Em 2017, foi colocado a trabalhar na secretaria do posto.
Esposa pede divórcio
A esposa do guarda nunca soube da relação com a jovem de Paredes e pediu o divórcio quando o marido foi detido. Este continua a viver nuns anexos da habitação da família.
Processo disciplinar
A GNR instaurou um processo disciplinar, que será concluído agora que foi decretada a sentença pelo tribunal.