Sentença do Tribunal de Aveiro indignou população da Gafanha Baixa, na Murtosa, onde vivem os pais de grávida desaparecida.
Corpo do artigo
O Tribunal de Aveiro absolveu, anteontem, Fernando Valente do homicídio de Mónica Silva, mas, a população da Murtosa, não. Na zona conhecida como Gafanha Baixa, onde vive a família da mulher que desapareceu, grávida, em outubro de 2023, quando tinha 33 anos, ontem o quadro era de indignação e de revolta. Muitos continuam a acreditar na culpa do contabilista e empresário, de 37 anos.
“Foi uma injustiça muito grande, porque há provas de que ele tem alguma coisa a ver com o caso. Toda a gente está revoltada. Eu, quando soube que o tinham absolvido, as lágrimas caíram-me até ao chão”, contou ao JN Lurdes Campos, no minimercado da Tasca da Celestiria.
No dia em que foi conhecido o acórdão do tribunal, foram muitos os que acompanharam o caso, em direto, pela televisão, tanto em casa como nos cafés. “Eu até desliguei a televisão, a determinada altura, porque havia aqui familiares da Mónica. No geral, está tudo revoltado. Uma coisa é certa: isto é um incentivo para mais gente fazer o mesmo. A Justiça não tem noção do que poderá vir a acontecer”, adiantou uma comerciante, que preferiu não ser identificada.
Vera Matos, que ainda chega a ser prima de Mónica Silva, também falava em injustiça. “O que é que se há de sentir? Se fosse com uma filha minha, eu também não gostava. Ele havia de ficar preso, é só o que eu tenho a dizer”, rematou.
“Não deixava os filhos”
Um ano e nove meses após o desaparecimento, o tema nunca deixou de ser conversa na Murtosa. Muito menos na vizinhança da casa onde vivem os pais de Mónica e onde muitos a conheciam. Ainda hoje, a população se questiona sobre o seu paradeiro. “Não há corpo, não aparece uma peça de roupa, não aparece nada dela, nem as ecografias [que Mónica teria consigo na última noite em que foi vista]. O que é que eles [Fernando Valente e a família] lhe fizeram? Quando ela desapareceu, a gente andou à procura dela e não encontrou nada”, recordou outra popular, Elsa Campos, à porta do snack-bar Ghost. “A maioria das pessoas está contra ele. Há provas em como o Fernando Valente foi a casa da Mónica, o filho diz que ouviu a conversa, por isso ele tem de saber onde é que ela está. Viva ou morta, tem de aparecer”, sublinhou Paula Couras, outra moradora.
Já Lurdes Campos confirmou que o tema nunca foi esquecido pelos locais. “Está sempre muito presente nas conversas de toda a gente. Talvez alguém ainda pense que ela esteja viva, mas eu não. Ela tem dois filhos e eu conhecia-a. A mãe que ela era não deixava os filhos sem resposta”, frisou.
Também é por causa dos filhos de Mónica – dois rapazes, de 12 e de 15 anos – que Paula Couras está convicta de que a desaparecida foi assassinada: “Prevalece a dúvida, enquanto não houver corpo ou ele [Valente] não disser o que realmente aconteceu. Mas eu não acredito que esteja viva. Se estivesse, tentava ver os filhos, pois era muito próxima deles”.
E Paula Couras até vai mais longe. “Cinco crimes e nenhum foi provado? Não se entende. Mas o Fernando Valente é o culpado da morte da Mónica, sem dúvida nenhuma”, opinou.
Mónica Silva
Separada de facto
Mónica Alexandre de Oliveira e Silva, com 33 anos à data do seu desaparecimento, estava separada de facto, só aguardando o divórcio, que não chegou a ser decretado.
Recusou aborto
Mónica Silva, cujo feto tinha já sete meses de gestação, recusou sempre desde o início abortar, sabendo-se que teve um aborto aos 16 anos.
Desempregada
Mónica Silva tinha o sexto ano de escolaridade, mas iria voltar a estudar. Desempregada, vivia com os dois filhos, à data com 11 e 14 anos.