Magistrado, expulso em abril, é investigado por auxílio à imigração ilegal, corrupção em negócios urbanísticos e lavagem de milhões em criptomoedas.
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O juiz Hélder Claro, que foi expulso da magistratura em abril e está a ser investigado por crimes de auxílio à imigração ilegal, corrupção, abuso de poder e prevaricação em negócios urbanísticos, além de branqueamento, é suspeito de ter organizado a vinda de sete mulheres do Brasil para trabalhar num bar de alterne do Porto. A investigação da Polícia Judiciária do Porto está na reta final e a acusação, visando o ex-magistrado e uma dezena de outros arguidos, deve ser deduzida antes das férias judiciais.
De acordo com o inquérito, o ex-juiz era um cliente assíduo do estabelecimento “Tamariz”, um dos mais antigos bares de alterne do Porto. Desde março de 2022, Hélder Claro terá procurado angariar mulheres brasileiras para trabalhar no bar. Para isso, contaria com a ajuda de uma amiga, que chegou a viver em Portugal mas regressou ao Brasil em 2021.
Juiz recebeu fotos das mulheres
De acordo com a investigação, em parte sustentada por escutas ambientais, a mulher estava a ter dificuldades na angariação de raparigas e Claro instruiu-a para que esta não lhes dissesse que iam trabalhar no alterne, mas sim num clube noturno. Passando uns dias, Samantha, também suspeita de auxílio à emigração ilegal, enviou ao então juiz 16 fotos de oito mulheres, com a indicação para começar a tratar dos passaportes e dos contratos de trabalho. Em resposta, Hélder Claro afirmou ter a certeza de conseguir colocar até 12 “meninas” e explicou de que forma Samantha iria receber a sua comissão. Em maio de 2022, o então juiz explicava à amiga que as mulheres tinham de vir separadas para Portugal, porque o SEF poderia colocar entraves à sua entrada.
Ainda segundo uma escuta ambiental no carro do juiz, em julho foi informado das diligências a decorrer junto do consulado português no Brasil e, no mês seguinte, ficou a saber que os vistos haviam sido negados.
A partir de agosto, Claro terá delegado no gerente da boîte a agilização da viagem das mulheres, que acabaram por entrar em Portugal com visto de turismo, em novembro. A amiga do então juiz, que também angariou um coreógrafo, terá recebido seis mil euros de comissão.
Além do auxílio à emigração ilegal, Hélder Claro também é suspeito de ter participado num esquema de tentativa de branqueamento de capitais, envolvendo cerca de 90 milhões de euros em criptomoedas.
A investigação acredita que um grupo de conhecidos do ex-magistrado, onde se inclui Alberto Couto, ou “Joca”, o ex-PSP atualmente em preventiva por tráfico internacional de droga, tinha acesso a 100 criptomoedas provenientes de crimes informáticos. O ex-juiz terá tentado introduzir esse dinheiro no circuito bancário para o trocar por dinheiro real. Porém, o grupo nunca o conseguiu.
O inquérito também versa sobre suspeitas de abuso de poder, prevaricação e corrupção no setor privado, com investimentos imobiliários e na instalação de um supermercado Aldi em Matosinhos.
Reação
Magistrado expulso nega crimes
Contactada pelo JN, uma fonte da defesa de Hélder Claro garantiu que o ex-juiz está “absolutamente tranquilo” em relação a todas as suspeitas de que é alvo. “Ao fim de seis anos de escutas, ainda não foi deduzida uma acusação e as acusações de auxílio à imigração ilegal apareceram apenas para enxovalhar”, garante a fonte. O ex-juiz, que foi constituído arguido e alvo de buscas no verão do ano passado, garante, através da defesa, ter-se limitado a produzir minutas de contrato de trabalho para mulheres brasileiras. “Não houve mais intervenção, mas ainda assim, em agosto de 2022, a legislação permitia a entrada em Portugal de estrangeiros que vinham à procura de trabalho”, diz. Sobre as suspeitas de branqueamento, explica: “Não é ilegal transacionar criptomoedas e havia e há a convicção que eram de origem legal. Elas estavam validadas por uma blockchain, que garante a transparências das criptomoedas”.
Pormenores
100 criptomoedas
O alegado branqueamento de capitais envolvia 100 criptomoedas o que equivale a cerca de 90 milhões de euros.
Sócio de facto
A investigação acredita que Hélder Claro era sócio de facto, sem nunca aparecer oficialmente, da imobiliária Imopartner SA, que poderá ter sido beneficiada em licenciamentos urbanísticos em Matosinhos e Valongo.
Alerta bancária
A investigação ao juiz nasceu de um alerta bancário por suspeitas de branqueamento de 100 milhões de euros, entretanto descartadas pelas autoridades.