Ministério Público acusou grupo de ameaçar de morte empresários que não queriam pagar comissões. Arguidos tinham 680 kg de canábis em estufa.
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Atuavam ao estilo da máfia chinesa, na extorsão de empresários, com ameaças de morte e tentativas de homicídio contra quem ousava recusar pagar. Investiam na produção de milhões de euros em droga destinada à exportação, usando vítimas de tráfico humano para gerar os lucros. Mas o grupo de oito cidadãos chineses, que atuava na zona da Varziela, em Vila do Conde, foi desmantelado pela Polícia Judiciária do Porto, em fevereiro deste ano, e vai brevemente ser julgado, no Tribunal de Matosinhos. Dois dos arguidos vão ser julgados à revelia, por terem fugido. São considerados perigosos e alvos de mandados de captura internacional.
Segundo a acusação do Ministério Público (MP) de Vila do Conde, o grupo planeou extorquir compatriotas que se dedicavam à importação ou exportação. Exigiam-lhes que aumentassem o preço de venda de cada caixa de bens transportados pelos empresários em um ou dois euros, para que o remanescente lhes fosse entregue.
Em abril de 2021, o representante de uma empresa de transporte da Chinatown de Vila do Conde foi contactado pelos arguidos. Marcaram um encontro nas imediações do "outlet" vila-condense, onde cinco dos arguidos esperavam num Mercedes cinzento. Exigiram-lhe um euro por caixa e calcularam que o empresário teria de lhes entregar quatro mil euros por mês. A vítima disse que ia ponderar, acabando por recusar.
De quatro mil para 20 mil euros
Dias depois, três dos arguidos acompanhados de dois outros cidadãos chineses foram à empresa da vítima, com um tom mais ameaçador. Deram a entender que traziam armas de fogo e que o empresário iria sofrer graves represálias, como ser assassinado.
Perante outra nega, e já no mês de agosto, os dois líderes do grupo que até então nunca se tinha mostrado à vítima foram à empresa. Exigiram 20 mil euros. Mas o empresário e uma sócia radicada em Espanha voltaram a negar.
Dias depois, o empresário estava num restaurante chinês de Vila do Conde quando foi surpreendido por três dos arguidos e um cúmplice não identificado, armado de uma faca.
Mal a vítima os viu entrar, tentou fugir, mas foi esfaqueada cinco vezes, atingida com gás pimenta e agredida. Os agressores puseram-se em fuga. Com medo, toda a gente que estava no restaurante fugiu e até os estabelecimentos situados à volta encerraram. A vítima foi levada para o hospital e sobreviveu.
O grupo também montou uma megaestufa de canábis na Maia. Em nome de uma empresa alheia, alugaram um armazém, onde fizeram uma ligação direta à rede elétrica e investiram mais de 130 mil euros em sofisticada aparelhagem para produzir canábis em grande escala. Para cultivar as plantas, colocaram ali dois cidadãos chineses, vítimas de tráfico de seres humanos, que nunca viam a luz do dia.
A estufa foi desmantelada a 23 de fevereiro. Foram apreendidos perto de 680 quilos de canábis, com um valor de mercado entre 1,3 e 3,6 milhões de euros.