Este ano já houve mais seis mulheres assassinadas em contexto de violência doméstica do que em 2021. O número prova que, apesar das campanhas de sensibilização, medidas legislativas e criação de equipas especiais envolvendo o Ministério Público e as forças de segurança, não há uma tendência de decréscimo de um fenómeno que, desde 2004, já fez 624 vítimas mortais. A solução, defendem dirigentes da UMAR - União de Alternativa e Resposta e Manuel Albano, vice-presidente da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), tem de passar pela contínua aposta na formação e educação, para colmatar lacunas que teimam em persistir.
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"Temos que retomar o alerta. Alguma coisa está a falhar e temos que agir", refere a presidente da UMAR. Liliana Rodrigues defende, igualmente, que "é urgente um investimento efetivo" no combate à violência doméstica, de forma a que as entidades do setor possam "trabalhar em rede". "Temos de educar para a igualdade e não para o machismo e para o sexismo", insiste.
"Não estamos meramente a contabilizar números, estamos a falar de pessoas e de famílias que ficam destruídas. Precisamos urgentemente de prevenir o femicídio e a violência de género", complementa a responsável pelo Observatório de Mulheres Assassinadas. Cátia Pontedeira confirma que, ao longo das últimas duas décadas, "não tem havido uma tendência de decrescimento" do número de vítimas mortais e garante que "é preciso fazer algo".
"O trabalho em rede é fundamental. Desde 2004, foram assassinadas 624 mulheres e, apesar de algumas oscilações, os números de mortes anuais não estão, infelizmente, a descer", advoga.
Formação e educação são essenciais
Foi Cátia Pontedeira quem revelou, na manhã desta quarta-feira, que, entre 1 de janeiro e 15 de novembro, 22 mulheres foram assassinadas por maridos, namorados ou antigos companheiros. O número já é maior que as 16 vítimas mortais de 2021, ano em que se tinham registado menos mortes que em 2020.
"A violência contra as mulheres é estrutural e não individual", avisa Liliana Rodrigues.
Para esta ativista, mas também para Manuel Albano, as parcerias, a formação dos agentes da primeira linha de intervenção, nomeadamente polícias e médicos, e a educação da sociedade são fatores essenciais para combater a violência doméstica. "Os números conhecidos a todos deve incomodar", frisa o dirigente da CIG.