Bombeiros de Tondela não conseguiram socorrer vítima de imediato porque suspeito, embriagado e agressivo, segurava caçadeira carregada. Fugiu mas foi apanhado pela GNR.
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Uma discussão em contexto de convívio com álcool em excesso terminou com uma morte a tiro. Herculano Casimiro, 46 anos, estava na residência do primo, Luís Fernandes Santos, 45, e foi à sua casa buscar uma caçadeira para assassinar o familiar, em Lajeosa do Dão, Tondela.
Pelas 2.30 horas da madrugada de quinta-feira, o homicida ligou para os bombeiros a revelar que disparara contra o primo e a pedir uma ambulância. Mas, quando as equipas de socorro chegaram, não puderam assistir a vítima, caída no logradouro da vivenda.
"Não tínhamos condições de segurança. O agressor estava no local, completamente alcoolizado, com uma atitude agressiva e com a arma carregada. Foi-lhe pedido que a entregasse, o que recusou. Tivemos de nos recolher num local seguro até à chegada da GNR", relatou, ao JN, Nuno Pereira, comandante dos Bombeiros de Tondela.
Só após cerca de meia hora foi possível a aproximação da vítima. "Foi atingida na zona do tórax, aparentemente com um tiro, e o médico do INEM decretou logo o óbito", contou Nuno Pereira.
Herculano fugiu, obrigando a GNR a mobilizar várias patrulhas. "Montámos um perímetro de segurança e localizámos o indivíduo por volta das 4 horas da manhã, na periferia da casa onde vivia", adiantou Fábio Lamelas, da GNR de Viseu. "Tinha a caçadeira na mão, de dois canos, calibre 12. Retirámos-lhe a arma e foi detido", adiantou o capitão. O suspeito foi depois entregue à PJ.
Apesar de ser feriado, Herculano esteve a trabalhar na construção civil até pouco depois das 18 horas.
Adepto do F. C. Porto, vestiu uma camisola do clube e foi para o café "Cantinho dos Baloiços" assistir ao F. C. Porto-Marítimo. Satisfeito com o resultado (1-0), o homem deixou o estabelecimento pouco depois das 23.30 horas e foi ter com o primo, benfiquista, a quem levou tabaco e a quem também era hábito levar cerveja.
"Quando bebe é o contrário"
As autoridades acreditam que os dois estiveram a ingerir bebidas alcoólicas, em casa de Luís, a qual, segundo vários relatos, costumava estar cheia de garrafas de cerveja e garrafões de vinho vazios. Suspeita-se que terá havido uma discussão e Herculano tenha ido a casa buscar uma caçadeira que usou para disparar contra Luís.
"Não imagino o que levou o "Castaré" (alcunha de Herculano) a disparar. Ultimamente, andava sempre a elogiar o primo por lhe lavar a roupa na máquina", contou David Coimbra, patrão do suspeito. "Ele é muito trabalhador, educado e uma pessoa impecável. Mas quando bebe é o contrário", concluiu.
Reação do pai
"Ainda estava na cama quando me acordaram com a notícia"
Américo Santos, pai da vítima, não faz ideia do que terá sucedido na madrugada de ontem para o sobrinho chegar ao ponto de matar o seu filho, com quem se relacionava, ainda que aparentemente sem proximidade. "Eu e ele falávamos, mas já não o via há pelo menos meio ano", contou ao JN Américo, que tem mais dois filhos. Luís era o do meio. "Ainda estava na cama quando me acordaram com a notícia", contou Américo, que reside em Viseu, a menos de 20 quilómetros de Lajeosa do Dão, Tondela.
O homicídio dominava todas as conversas na aldeia e, em particular, no café "Cantinho dos Baloiços", onde o suspeito foi visto pela última vez, antes do crime. "Ainda nem comi, o leite não me passa", contava na quinta-feira ao final da manhã Cátia Rodrigues, a dona do café. Por causa da pandemia, tem fechado o estabelecimento às 22 horas.
Na quarta-feira, foi o próprio Herculano, seu cliente há 13 anos, quem lhe pediu para fechar mais tarde, por causa do jogo de futebol. "Ele saiu daqui às 23.30 horas, depois do jogo e estava bem, sereno. Bebeu um bagaço, uma cerveja e antes de sair ainda tomou um café. Deu-me 10 euros e pediu-me dois maços de tabaco para levar ao primo. Eles eram amigos", assegurou ao JN.
Pormenores
Discurso incoerente
O JN sabe que, quando foi detido pela GNR, Herculano não tinha um discurso coerente e aparentava estar alcoolizado. Horas depois, já nas mãos da Polícia Judiciária, quem o viu garante que estava choroso.
Sem família
O alegado homicida, solteiro, vivia sozinho e não tinha família em Lajeosa do Dão, depois de ter perdido os pais e, mais recentemente, o irmão. Trabalhava na área da construção civil há cerca de dois anos.