Empresário do Porto suspeito de ter enganado quatro investidores com ações de empresa sediada na Suíça. Lesados reclamam quase 340 mil euros de indemnização.
Corpo do artigo
António Coelho é um homem de negócios com interesses em vários continentes, mas, de acordo com o Ministério Público (MP) do Porto, terá burlado quatro pessoas em mais de 300 mil euros, com ações de uma empresa que estaria a desenvolver um chip injetável, capaz de detetar precocemente o cancro. É acusado de quatro crimes de burla e um de falsificação de documentos. Começa a ser julgado em abril.
De acordo com o MP, o empresário, natural do Porto, mas residente em Espanha, conheceu o primeiro queixoso numa clínica de estética gerida pela vítima, em 2011. Criaram uma amizade e passaram a frequentar a casa um do outro e a fazer viagens juntos. Tudo faria parte de um plano arquitetado pelo arguido para sacar dinheiro ao médico, garante a acusação.
António Coelho, que o MP acusa de se ter apresentado como veterinário e amigo da filha do ex-presidente angolano Isabel dos Santos, terá então aliciado o queixoso para investir na empresa de biotecnologia Dar Life. Teria descoberto um chip injetável, prestes a ser comercializado, que descobre precocemente cancros.
O empresário era detentor da patente da invenção, desenvolvida na Suíça, onde ambos chegaram a deslocar-se. António Coelho até pagou todas as despesas, tal como a estadia num dos hotéis helvéticos mais caros, o Kempimski, onde uma noite numa suíte pode custar perto de seis mil euros. Foram à empresa que estaria a desenvolver o projeto para ver as instalações, mas o médico não pôde falar com nenhum dos investigadores, pois estes, segundo o arguido, estariam em viagem.
Para o MP, tudo faria parte do plano para burlar o médico, que transferiu 250 mil euros para o arguido, em 2012, após terem assinado um contrato de cedência de ações da Ulley Group Suisse SA, detentora da patente Dar Life. O MP garante que a empresa não tem sequer existência jurídica.
Envelopes com dinheiro
Ainda segundo a acusação, entre 2013 e 2014, sempre alegando ser um abastado investidor, detentor da patente Dar Life, Coelho levou o representante de uma empresa de biotecnologia e medicina regenerativa a entregar-lhe perto de 26 mil euros. Este gestor tinha sido apresentado ao milionário pela primeira vítima. Foi-lhe transferindo várias verbas, mas também chegou a entregar-lhe oito envelopes com dinheiro, totalizando mais de 6400 euros.
O MP acusa ainda o arguido numa terceira situação, em que a vítima foi o famoso cirurgião plástico Serafim Ribeirinho Soares. Este entregou a António Coelho, em dinheiro, um total de 50 mil euros. Também neste caso o MP garante que o empresário fez um trabalho de aproximação, com desenvolvimento de uma amizade e convívios entre as duas famílias.
O quarto queixoso investiu 50 mil euros nas mesmas ações da empresa, mas recuperou 38 mil euros, pelo que reclama uma indemnização de 22 mil.
O arguido nega a prática dos factos. Contactado pelo JN, Ricardo Serrano Vieira, advogado do arguido, disse que António Coelho vai provar a inocência em tribunal. "Está confiante na Justiça e, no final, ficará provado que não praticou os factos de que foi erradamente acusado", afirmou.
Julgamento
Quinta de luxo
António Coelho recebeu várias vezes os queixosos numa luxuosa quinta que possui em Gondomar. Tinha mordomo, jardineiro e outros funcionários em permanência na habitação. Recebeu várias vezes os queixosos a jantar.
Outros casos
No processo, consultado pelo JN, pode-se ler que António Coelho já foi acusado, em três casos, de burla, falsificação de documento e abuso de confiança. Nos apensos, que irão ser analisados pelos juízes no julgamento, não foi possível encontrar documentos atestando se o arguido foi absolvido ou condenado.
Credor
Arguido em negócio de milhões com o Estado de S. Tomé
António Coelho é um dos donos de uma empresa com sede em Inglaterra, a Synergy Investments, que tem cerca de sete milhões de euros a receber do Estado de S. Tomé e Príncipe. Em 2004, o Governo são-tomense concedeu a exploração da central hidroelétrica do rio Contador à Synergy Investments, num acordo com duração de 35 anos. Mas S. Tomé acabou por reverter o negócio, levando a Synergy a interpor uma ação na Câmara de Comércio Internacional, sediada em Paris, França. A empresa de António Coelho, que pedia uma indemnização de 70 milhões de euros, ganhou a ação e ficou de receber cerca de três milhões, acrescidos de juros, totalizando sete milhões. Só que, entretanto, nasceu um litígio na cobrança da dívida que o Estado de S. Tomé já começou a pagar. O dinheiro terá sido desviado para contas não controladas por António Coelho, que já se queixou à Justiça.