Um técnico de informática com poder para administrar a rede do Tribunal Judicial de Valongo é suspeito de estar por detrás da obtenção da documentação do processo e-Toupeira que, em 2018, foi publicada no blogue Mercado do Benfica, alojado na plataforma Wordpress e entretanto suspenso.
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Em abril deste ano, o Ministério Público (MP) defendeu que não existiu conluio com Rui Pinto. Só que, meses antes, já o hacker fora acusado pela divulgação, no mesmo endereço, daqueles conteúdos. O caso está em julgamento em Lisboa.
A informação consta nos autos dos processos contra Rui Pinto suspensos no âmbito da colaboração com as autoridades do autointitulado denunciante, consultados pelo JN.
Documentos do e-Toupeira
Em abril, cerca de um mês depois de o gaiense ter desencriptado um dos discos que lhe tinham sido apreendidos em janeiro de 2019, o procurador Casimiro Nunes, do Departamento Central de Ação e Investigação Penal (DCIAP), alegou a existência de outros cinco inquéritos em que o pirata informático era suspeito.
Desses, apenas quatro foram integrados no processo inicial - o quinto refere-se à denúncia de um inspetor da PJ quanto à divulgação, no blogue alojado em mercadodebenficapolvo.wordpress.com de documentos do e-Toupeira, relacionado com o Benfica (ler caixa).
O magistrado sustentou então que existia já um técnico do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça constituído arguido por ter acedido indevidamente, através da rede do Tribunal de Valongo, a documentos que depois surgiram publicados naquele endereço. Acrescentou que este não conhece Rui Pinto e que este, por sua vez, atua, ao que tudo indica, sozinho. Concluiu, por isso, que a linha de investigação em causa era outra.
Uma vez que o inquérito acabou por não ser anexado aos autos, não é claro em que ponto este se encontra. Mas é já certo que a ligação ao blogue foi, entre outros ilícitos, imputada por outras duas procuradoras do DCIAP - Vera Camacho e Patrícia Barão - ao criador assumido do Football Leaks.
No despacho, as magistradas associam o hacker à criação, precisamente, do blogue mercadodebenficapolvo.wordpress.com, alimentado com informação que o pirata terá, alegadamente, extraviado da PLMJ, uma das sociedades de advogados que representaram a SAD do Benfica no e-Toupeira.
Rui Pinto está acusado, no total, de 90 crimes, entre os quais 14 de violação de correspondência e 68 de acesso indevido. O julgamento começou a 4 de setembro e contou já com dez sessões, faltando ouvir dezenas de testemunhas.
Caso e-Toupeira bloqueado antes do julgamento
O processo e-Toupeira, atualmente parado entre o Tribunal da Relação de Lisboa (TRL) e o Supremo Tribunal de Justiça, conta, neste momento, com três arguidos: Paulo Gonçalves, antigo braço-direito do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, e José Silva e Júlio Loureiro, funcionários judiciais suspeitos de terem espiado processos para o primeiro, então também assessor jurídico da SAD dos encarnados. Loureiro fora ilibado na fase de instrução, mas o TRL invalidou a decisão. A defesa quis recorrer, os desembargadores não deixaram e uma reclamação fora de prazo acabou por atrasar o início do julgamento, que irá decorrer em Lisboa. A SAD do Benfica não vai ser julgada, pois os juízes entenderam que Paulo Gonçalves não representava aquela pessoa coletiva.
Ataque ao F. C. Porto
A intrusão, em 2016, por parte de Rui Pinto na caixa de correio eletrónico de Fernando Gomes, administrador da SAD do F. C. Porto, é um dos cinco casos que foram suspensos provisoriamente, na condição de manter a colaboração com as autoridades policiais, noutras investigações.
Luanda e Malta Files
Embora inicialmente se tenha assumido como responsável pela divulgação de documentos confidenciais na plataforma Football Leaks, Rui Pinto revelou mais recentemente ser também o autor da intrusão e divulgação de documentos associados ao Luanda Leaks (Isabel dos Santos) e Malta Files, relativos a casos de evasão fiscal.