O "Relatório Global sobre Cocaína 2023", publicado nesta quinta-feira, pela Organização das Nações Unidas (ONU), frisa que "os dados mais recentes mostram que o impacto da covid-19 não teve efeitos de longo prazo no tráfico da cocaína". Isto porque, após um período de menor fulgor, "o fornecimento de cocaína está em níveis recorde". "Quase duas mil toneladas foram produzidas em 2020, continuando um aumento dramático que começou em 2014, data em que os valores registados eram metade dos atuais", lê-se no documento.
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A ONU, que contou com o auxílio de autoridades policiais de diferentes países e do Centro de Operações e Análises Marítimas (MAOC na sigla inglesa), justifica estes resultados "com a expansão da zona de cultivo, que duplicou entre 2013 e 2017, atingiu o pico em 2018 e voltou a subir em 2021". Só de 2020 para 2021, o cultivo de folha de coca na Colômbia, Peru e Bolívia aumentou 35%.
A maior quantidade disponível de cocaína também se deve a "melhorias no processo de conversão de folha de coca em cocaína".
Paralelamente, alertam os especialistas, "há um contínuo crescimento da procura" deste tipo de droga e todas as regiões apresentam "números constantes de crescimento de consumidores". Um cenário que ainda pode piorar, uma vez que "há um forte potencial do mercado da cocaína expandir-se para África e Ásia".
Novas rotas
Para responder às necessidades do mercado, e também para contornar as ações policiais, os traficantes estão a diversificar as rotas utilizadas para fazer chegar a cocaína à Europa.
Se num passado recente os portos marítimos colombianos dominavam os pontos de partida, agora as redes criminosas preferem usar aviões para levar a droga até ao Paraguai ou Brasil e, a partir daí, transportá-la de barco até aos portos de Portugal e Espanha, mas sobretudo dos Países Baixos, Bélgica e Alemanha. "A costa brasileira está a ganhar importância como ponto de partida da cocaína para a Europa", refere o documento.
Apreensões também batem recordes
A provar o aumento de produção de folha de coca e de cocaína enviada da América do Sul para a Europa estão, igualmente, as apreensões realizadas pelas autoridades em portos marítimos. Polícias de 13 países da Europa Ocidental e Central com acesso ao mar, incluindo Portugal, apreenderam, em 2020, 141 toneladas de cocaína, número que representa 97% do total das apreensões de droga reportadas por estas nações naquele ano.
Segundo a ONU, o tráfico de cocaína para a Europa está a ser controlado, em grande parte e apesar da presença dos brasileiros do Primeiro Comando da Capital, por grupos criminosos dos Balcãs. Alguns são especializados no transporte a partir da América do Sul. Outros especialistas na distribuição da cocaína por diferentes países europeus.