Pais de "Manu" acreditam que houve negligência na supervisão do estabelecimento e omissão de auxílio.
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Os pais do jovem Manuel Gonçalves “Manu”, assassinado à facada a 22 de abril à porta do Bar Académico (BA), em Braga, pediram ao Ministério Público a abertura de inquérito criminal para apuramento de responsabilidades contra a Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), o gerente do BA e um segurança do estabelecimento. Alegam que tinham obrigação de zelar pela segurança do filho e acusam-nos do crime de omissão de auxílio.
De acordo com fontes judiciais, a queixa-crime foi apresentada há dias e aponta à AAUM uma falha na supervisão e gestão da segurança do espaço, uma acusação que também fazem ao gestor do bar. Criticam a “conduta negligente” do organismo estudantil, responsável pelo BA e pela escolha dos seus colaboradores, por ter permitido a entrada e permanência de pessoas perigosas, como o arguido, que acabou detido pela PJ de Braga. Também argumentam que os visados não responderam aos alertas de risco.
“Boa noite Cinderela”
Na mesma queixa, os pais de “Manu” exemplificam a alegada falta de supervisão com o facto de ter sido dada uma garrafa, contendo uma substância ilícita que apelidam de “Boa noite Cinderela”, a uma jovem de 15 anos. Os queixosos até identificam, pelo perfil de rede social, o alegado autor da entrega da garrafa e acusam o segurança do bar, de identidade desconhecida, do crime de omissão de auxílio e de possível negligência grave.
Recordam que, na madrugada de 12 de abril de 2025, o seu filho, Manuel Gonçalves, se encontrava no bar acompanhado de amigos, entre os quais a jovem de 15 anos, quando três amigos gritaram, avisando que um jovem oferecera uma garrafa de água à menor, onde boiava uma pastilha de “Boa noite Cinderela”.
Apercebendo-se do facto, descrevem na queixa, “Manu” alertou a jovem para o perigo de ingerir a bebida, enquanto o autor da entrega teimava para que bebesse. Face à postura de “Manu” na defesa da amiga, um grupo de cinco indivíduos, a que pertencia o dono da garrafa e Mateus Marley Machado, que viria mais tarde a dar a facada mortal, entrou em confronto físico com “Manu”, ainda dentro do BA.
Os pais queixam-se de que, face à gravidade da situação, “Manu” pediu ajuda a um segurança, mas que este a recusou, tendo dito que nada podia fazer, em virtude de serem amigos do gerente. Os progenitores garantem que o segurança ainda lhe deu dois estalos ao expulsá-lo do bar, dizendo-lhe: “Não te armes em herói”.
Já no exterior, às 3.34 horas, “Manu” telefonou ao namorado da sua irmã, agente da PSP, a aconselhar-se sobre o que deveria fazer, o qual lhe disse para ligar à Polícia. “Manu” ligou.
Mais tarde, “Manu” terá sido esfaqueado por Mateus Marley Machado, que foi identificado por testemunhas e se encontra preso por decisão do Tribunal de Instrução de Guimarães.