A Polícia Judiciária (PJ) começou a monitorizar o estudante suspeito de estar a preparar um ataque na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) dias antes de o deter, a 10 de fevereiro deste ano, 2022.
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Os inspetores não sabiam, à data, a data prevista para o ato, mas foram obrigados, como determina a lei, a esperar por um mandado de busca domiciliária, validado por um juiz, que permitisse entrar em casa do suspeito e eventualmente detê-lo. João C., aluno daquela instituição de ensino superior, acabou por ser, na ocasião, detido em flagrante, por posse de arma proibida.
"Nós entrámos [em casa do arguido] assim que tivemos condições para entrar na legalidade. O mandado só chegou naquele dia. Se tivesse chegado mais cedo, tínhamos entrado mais cedo", testemunhou esta terça-feira, no primeiro dia do julgamento do universitário, Luís Miranda, um dos inspetores da PJ que, a 10 de fevereiro, fizeram buscas no quarto de João. C., em Lisboa.
O estudante da FCUL, na altura com 19 anos, foi identificado pela PJ na sequência de uma denúncia feita por um internauta ao FBI, a polícia federal dos Estados Unidos. No seu quarto, foram descobertos, numa mochila e numa mala de viagem, facas, uma besta e cocktails molotov.
A informação chegou a 4 de fevereiro, sexta-feira, e logo nesse fim de semana os inspetores foram para o terreno. "Não sabíamos em que momento ia avançar, daí a necessidade de monitorização 24/7 [24 horas por dia]. Foi permanentemente acompanhado", corroborou o chefe da equipa, Arménio Pontes.
Sem se aperceber, o jovem foi acompanhado durante um exame na FCUL, no dia 7 de fevereiro, e nesse e nos dias seguintes nos percursos entre casa, nos Olivais, e a instituição de ensino superior, na Cidade Universitária. Quando foi detido, a 10 de fevereiro, terá, ainda assim, sido apanhado de surpresa.
"Nós sabíamos que ele podia saber [que estava a ser investigado], mas, da forma como ficou, não estava à espera", acrescentou a testemunha. O atentado estava previsto para o dia seguinte, 11 de fevereiro.
"Talvez esperasse ser apanhado"
João C., que responde por terrorismo e posse de arma proibida, conta uma história diferente e garante que já sabia que as autoridades andavam atrás de si.
"Na terça-feira [8 de fevereiro], fui à loja do chinês para comprar líquido de isqueiro e [o funcionário da loja] disse-me que a Polícia tinha ido lá", sublinhou o arguido, num depoimento que, dadas as dificuldades na fala de que padece, nem sempre foi percetível.
Questionado pelo tribunal sobre o porquê de, após ter tido essa informação, não se ter desfeito de armamento que tinha já em casa, o estudante respondeu que "talvez esperasse ser apanhado", para ser travado.
De acordo com os inspetores, nas buscas ao seu quarto terá, porém e com "frustração", desabafado que "devia ter feito" o ataque na segunda-feira anterior, 7 de fevereiro. João C. tinha, na semana anterior e já após ter adiado a prática do ato, definido que atacaria nesse dia.
O julgamento prossegue a 28 de outubro, no Tribunal Central Criminal de Lisboa, com a audição das restantes testemunhas arroladas pelo Ministério Público e pela defesa do arguido. João C. está internado preventivamente há cerca de sete meses.